Finalmente, AVATAR

por Robson Assis | | 20.1.10

Dessa vez, não vou contar a minha saga, mas sim a de Jake Sully.

Avatar conta a saga deste ex-fuzileiro naval cadeirante, incapacitado de exercer serviços militares levado a um outro planeta explorado por uma corporação da Terra que busca Unobitanium, um mineral milionário para nosso planeta. Jake vai comandar um avatar criado a partir de biotecnologia. Ele precisa aprender os costumes do povo Na´Vi, os nativos, para ajudar a criar um acordo entre os dois povos e para que os interesses da companhia não sejam perdidos. Caso falhe a diplomacia - e isso fica claro desde o início - o "povo do céu" vai lidar da forma como sabe melhor: a guerra.


O roteiro é realmente fraco, sem novidades. Dizem por aí que se parece muito com o de Pocahontas. Como nunca vi Pocahontas, fica apenas a referência. A narrativa é intuitiva, rápida, como nos melhores (ou piores) blockbusters. É, no fundo, uma história bem contada, mas de forma simples, como histórias de amor épicas e dramas geniais que sempre existiram.

A contar apenas com o roteiro, James Cameron teria tudo para naufragar junto de seu mundinho, mas não. Ele conseguiu entrelaçar outros dois fatores extremamente importantes em uma ficção científica deste porte: estética e originalidade.

É primordial ver este filme em uma sala 3D, como em algumas do Cinemark ou no unânime Imax. Todas as cenas, eu disse TODAS, flertam com profundidade incomparável, mesmo as mais simples. Isso coloca o espectador dentro do filme, espantando as moscas luminosas que aparecem volta e meia. E, com o desenrolar da trama dá pra perceber que era realmente essa a idéia. Colocar o espectador em primeiro plano vivendo em Pandora, sentindo, mesmo que por apenas 3 horas, as sensações de um mundo exterior quase real.

Cameron criou um mundo extraterrestre singular, não apenas com fauna e flora próprios, mas com sutilezas e costumes tão intrincados que parece que aquele lugar realmente existe. Cada animal, cada olhar ou palavra transpiram. É possível estar em posições diferentes e sentir a profunda ligação dos nativos com seu planeta, como é possível ver os olhos transbordando sangue do general que encoraja o holocausto Na´Vi. Você é jogado dentro de Pandora sem perceber.

O outro ponto que citei foi a originalidade. Segundo esta matéria do New York Times publicada também pelo Terra, o filme criou em torno de si milhares de correntes a favor ou contra, das mais diversas formas. Um ponto chave da filmografia de Cameron é fazer filmes maiores que seu gênero. É possível ver o filme como uma frívola guerra de mundos da mesma forma que é possível encontrar analícamente uma crítica social em cada trecho.

Cameron disse em entrevista que AVATAR é uma parábola ecológica e sim, faz todo o sentido. Fala sobre a condição humana de avassalar os recursos naturais de um planeta por pura ambição. Com exceção dos heróis da trama, tudo o que envolve o terráqueo ou o "povo do céu" neste filme é cercado por doses cavalares de ódio e ganância. De certa forma, isso garante o desconforto em ser humano, que se agrava ainda mais quando a natureza é colocada como ponto focal do filme. Quando se percebe a ligação que aquele povo têm com a natureza, a ponto de se sentir mal em matar outro animal ou chorar ao ver a destruição de uma vegetação é que vemos o quanto damos a mínima para nossa origem. Como neste trecho abaixo, a humanidade se considera completa demais e o pensamento de se voltar à natureza é como regredir.
MO'AT: Por que você veio até nós?
JAKE: Eu vim para aprender.
MO'AT: Nós temos tentado ensinar outras "pessoas do céu". É difícil encher um copo que já está cheio.
O que mais me surpreendeu neste filme foi o fato de uma obra que começou a ser produzida no final dos anos 90 ter ainda tanta força ideológica 10 anos depois. Ainda somos primários, ainda somos os mesmos. Outro ponto foi a ficção científica baseada em alegorias. É possível contar histórias sobre problemas humanos reais sem falar diretamente de política, simplesmente com um pano de fundo em que as sensações e emoções por um mundo e um modo de vida mais simples superam a exatidão e a morosidade de nossos dias.

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