O RAP foi pro CEU

por Robson Assis | | 30.4.10 COMENTE!

Em 2007, após o confronto com a PM após a fatídica quase-apresentação do Racionais MCs na Virada Cultural, o RAP e seus seguidores foram execrados pela imprensa que habilidosamente culpou a música e os fãs, criando nas pessoas um sentimento de revolta por um estilo musical visto apenas como violento e errado. Não era difícil ouvir de conhecidos que o RAP não devia estar ali, uma vez que um evento deste porte não podia apoiar este estilo de música marginal.

A diminuição da presença do RAP nas edições posteriores já era esperada. Em 2008, restringiram as apresentações a um palco - o único com revista policial. Em 2009, apenas uma apresentação de DJs no centro e uma programação esparsa pelos CEUs da capital.

Em 2010, a organização da Virada Cultural restringiu os shows de RAP aos CEUs da cidade e dois shows na Pista Santa Ifigênia (Thaíde e Cabal). José Mauro Gnaspini, diretor do evento, afirmou em coletiva de imprensa que o RAP e seus entusiastas precisam buscar o seu espaço novamente: "mas aí tem que ser um passo de cada vez, quer dizer, a gente faz uma pista, não tem problema, mostra pra todo mundo que não tem problema, introduz um nome, introduz outro, e aos poucos a gente vai reconquistando esse espaço".

Gnaspini entende a importância do hip-hop para a cidade de São Paulo, diz ser também entusiasta e confessa ainda o erro da organização na edição de 2008: "em vez de premiar acabamos segregando sem querer".

Portanto, na edição de 2010, o Hip-Hop ficou restrito a pequenos e mais afastados shows. Embora tenhamos ainda Rapin Hood, EMCIDA, Nelson Triunfo, Záfrica Brasil, B Negão e outras atrações, este sem dúvida não é o suporte ideal que se esperava num evento do tamanho da Virada Cultural.

PROGRAMAÇÃO DE RAP NA VIRADA CULTURAL 2010
CEU - Lajeado
R. Manuel da Mota Coutinho, 293 - Lajeado
17h00 - Rappin Hood

CEU - Sapopemba
R. Manuel Quirino de Matos, s/nº - Sapopemba
18h30 - Damata
16h00 - Nelson Triunfo

CEU - Vila Curuçá
Av. Marechal Tito, 3.400 - Vila Curuçá
18h00 - EMICIDA

CEU - Vila do Sol
Av. dos Funcionários Públicos, 369 - Jd Angela
19h00 - Z'áfrica Brasil
17h00 - Bnegão

\\Programação completa em: http://viradacultural.org/programacao

Os Brasis

por Robson Assis | | 27.4.10 COMENTE!

Para carregar os dois e assistir na ordem alfabética!


O RAP pode mudar o mundo?

por Robson Assis | | 19.4.10 3 Comentários

Foto por Luciana Faria a.k.a Playmobeats

Estava produzindo um texto gigante sobre como o RAP se afastou de seu cunho social. Qual o verdadeiro papel social do RAP na cultura hip-hop, que obrigações poderia ter e que direitos poderia reservar. Separei tudo em tópicos e subtópicos, com explicações resumidas e conclusão em três partes. Considerei um bom tema para um TCC futuro - se um dia eu precisar fazer outro.

E então, como que por um toque divino de "esquece isso aí", encontrei essa introdução de "O Retrato de Dorian Gray", clássico de Oscar Wilde:
"O artista é o criador de coisas belas.
O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas belas.
A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia.
Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito.
Os que encontram significações belas nas coisas belas são os cultos, Para esses há esperança.
Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo.
A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao espelho.
A aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não ver a sua cara ao espelho.
A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de ator o modelo.
Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas.
O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada.
Toda a arte é completamente inútil."
E com toda a discussão sobre os novos trilhos do RAP nacional, cheguei a conclusão de que não vale questionar a responsabilidade da arte pelo meio social. A música deve ser entendida como uma expressão ou desabafo, um resultado do que o artista tenha a expor ou interpretar. Pode também ser analisada como uma ferramenta, mas apenas como um fim em si mesma. Para ilustrar: Um garoto pode usar o rap para se livrar do ócio e da criminalidade, mas isso não quer dizer que sua produção artística tem obrigação de ser panfletária ou assistencialista. Esta "ferramenta" já faz efeito quando um garoto deixa o crime para se tornar um artista. O que ele vai dizer quando estiver sobre os holofotes é consequência.

O problema de encarar essa nova visão é ter sido "criado" em uma cena em que a expectativa sobre o rap era inversamente proporcional ao espaço e investimento disponível aos artistas. Isso criou um estilo musical controverso e marginal, que entre erros e acertos evoluiu muito. Hoje, acredito que todos sabemos, a LAPA é um celeiro de grandes artistas, o mesmo Racionais que fazia shows na Favela Godoy, faz shows na Europa e o Indie Hip-Hop vai bem, obrigado.

Continuo ouvindo os mesmos Realidade Cruel, A286, Racionais, GOG, Visão de Rua e NDee Naldinho, mas entendi porque comecei a prestar maior reverência a artistas da nova escola que ultrapassaram a barreira do rap denúncia e trataram temas menos restritos que a crítica social. Entendi os moleques que me xingaram no Youtube quando comentei em caráter pejorativo o clipe do Pixote com participação do Helião. O que entristece é o fanatismo em torno de artistas com pouco a dizer e a embaçada visibilidade para alguns rappers mais afiados.

Finalizo ainda com a frase principal deste texto de Oscar Wilde supracitado:
"A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital."

Ainda acredito que o RAP possa mudar o mundo. Não com a mesma inocência e rebeldia, mas como um estilo musical livre, consistente e aberto a reflexão.

Vatos Locos, Ese! - Cabron Set (mixtape)

por Robson Assis | | 1.4.10 1 Comentário


A mixtape de hoje é produção do Thiago DJ, amigo de vários shows de hardcore e rolês insanos na Block Rockin Beats, festa que na época rolava toda sexta-feira na Toy Lounge (hoje é no Kitsch Club). Agitador cultural, toca no IDHC, Inferno, Bleecker Street e outros. Cabron é um set com o melhor da música latina, de Jennifer Lopez a Cypress Hill, este último já reverenciado por ele em outro set intitulado Hits From Tha Bong. Veja a agenda do malandro no fotolog.

Arte por meu parceiro em vários projetos musicais Leandro "From" Andrade, que também é designer profissional, ilustrador e grafiteiro nas poucas horas vagas. Também um admirador de Marcados pelo Sangue. No Flickr você encontra muitos dos seus trampos.



01. Cypress Hill Ft. Marc Anthony & Pitbull - Armada Latina
02. Mellow Man Ace - Mas Pingon
03. Molotov - Gimme Tha Power
04. Psycho Realm & Delinquents Habits - Midnite Spin
05. El General - Pun tun tun
06. Frost - Mari
07. DJ Muggs & sick Jacken - El Barrio
08. Control Machete - Compreendes Mendes
09. Molotov - Rap, Soda & Bohemia
10. Agrupasion MAmanis - Himno del Cucumelo
11. Delinquents Habits - Tres Delinquents
12. Frost - La familia
13. Eric Bobo Ft Cultura Londres & Kemo the Blaxican - Fiesta
14. Los Poca Soda - Passo Mal
15. Todos Tus Muertos - Scubidu
16. Todos Tus Muertos - Andate
17. Gerardo - Rico y Suave
18. Kid Frost - La Raza
19. Mellow Man Ace - Mentirosa
20. Red Hot Chilli Peppers - Cabron
21. Jim Carrey - Cuban Pete (Arkin Movie Mix)
22. Molotov - Puto
23. Afrika Bambaataa - Electro Salsa (Thiago DJ Extended Version)
24. Ari Borger - Latin Funk
25. DJ Laz & Danny D - Sopa de Caracol
26. B.O.S.E. - Vamos a la playa
27. DJ Laz - Mami El Negro
28. Jenifer Lopez - Lets Get Loud

Os livros de março

por Robson Assis | | COMENTE!

Mulheres da Máfia, Clare Longrigg – Livro reportagem de Clare Longrigg, jornalista do The Guardian, sobre mulheres que fizeram parte da máfia italiana ativamente. Histórias de amor e ódio muitas vezes chocantes, de mulheres caminhando pelos labirintos mais obscuros da organização criminosa. O livro possui capítulos temáticos com muito jornalismo lírico e dados históricos. Pode ser categorizado mais como um livro de contos, embora todas as histórias sejam reais. Mulheres da Máfia é uma grande conversa com a autora que prende a atenção do leitor desde o início ao apresentar Pupetta Maresca, que ilustra a sobrecapa do livro: “Fazia oitenta dias que estávamos casados quando mataram meu marido a tiros. E, oitenta dias depois, matei o homem que o assassinou. Eu tinha apenas 18 anos e estava grávida”. Prato cheio e visão alternativa para amantes da Trilogia de Mario Puzo, Sopranos e Os bons Companheiros.

Coleção Arte de Bolso – Cinco livros da editora Lazuli, sobre artistas brasileiros (ou naturalizados). Interessante conhecer a história das artes plásticas no Brasil do século XX, tendo em vista que todos eles atravessaram o período da ditadura - nem sempre ilesos. Uma linguagem rebuscada, mas com sentido claro, que facilita a leitura para leigos. Os livros consistem em um curto resumo sobre a vida e obra do artista em questão, uma entrevista com o próprio e uma seleção de suas obras pontuais e significativas. O formato pocket book fez meu maior interesse em obter mais volumes da coleção. Os cinco livros que li: Flávio-Shiró, Renina Katz, Claudia Andujar, Maria Bonomi e Miguel Rio Branco. Para quem já gosta de arte e para os que, como eu, não sabem por onde começar, é uma escolha ideal.

Contos, Virgínia de Medeiros - Certa vez, caminhando na frente do prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, ganhei este pequeno livro em formato de fanzine. Vasculhando minhas prateleiras ele sobressaiu e, ao lembrar de sua história, parei para ler. Curto, apenas 16 páginas na versão em português, é composto por histórias de travestis narradas em terceira pessoa. Um mundo que conhecemos de longe, de ouvir falar, mas que é também se mistura com o nosso mundo, de certa forma. São histórias vividas pela autora durante a organização e criação do Studio Butterfly, anotadas em diário e publicadas em forma de contos. Virgínia de Medeiros descreve a mente de cada personagem com detalhes intrigantes e os apresenta em histórias mais nebulosas ainda.

A Mensageira das Violetas, Florbela Espanca - Este é um daqueles livros que leio de tempos em tempos. Ele está marcado por post-its durante toda sua extensão (Não sou adepto a rabiscar e sublinhar livros). Além de ser pocket book, é de poesia, pra facilitar a leitura. Floberla Espanca é visceral, bela e ríspida, sempre nos momentos certos, sem deixar perder a leveza e originalidade de seus temas, sem escapar as narrações de paisagem às quais nos prendemos. A Mensageira das Violetas é um livro que trata da alma, em primeiro lugar, apaga toda e qualquer ligação com o mundo real. Naquele período que você pára pra ler o livro, ele te transporta para o quarto da autora, e naquele momento ela começa a declamar cada poesia com doçura e incontestável poder de oratória. Esse livro me transporta a um lugar sereno, um campo aberto cercado por árvores, exatamente igual aquele do Pq. Villa-Lobos, meu lugar no mundo, o ninho onde reside a calma.

Eva Trout, Elizabeth Bowen - O último romance desta escritora, lançado em 1968, narra a história de uma jovem abandonada pela mãe, criada por babás e governantas sob a supervisão de seu pai, um milionário. A transição para a vida adulta é difícil para Eva após a morte de seu pai e a herança herdada acaba criando fantasmas de perseguição em sua mente. Um livro com pano de fundo triste e confuso, sobre uma garota com uma mente perturbada, extremamente racional e pouco apegada à emoções e sentimentos. O que gostei foram as imagens de lugares e situações criadas pela autora de maneira fascinante, assim como alguns diálogos introspectivos com grande êxito. Eva Trout acaba não sendo um clássico surpreendente, mas tem alguns pontos altos bem interessantes.