Capão Redondo, afirmação cultural

por Robson Assis | | 8.1.10


Um dia desses, no Formspring (um site de perguntas e respostas que ganhou peso só no Twitter), o ovidio001 me perguntou "o que é aquele adesivo que todos os manos do Capão usam no carro?". Respondi de maneira simples, dizendo que é uma grife de roupas local, do escritor Ferréz, que inclusive já tinha até uma loja virtual.

Não demorou muito para eu pensar mais sobre o assunto.

Além de ser uma marca prestigiada na região em que moro, a 1 da sul é o ponto focal de uma mudança bastante visível nos últimos anos: O orgulho puro por morar em uma região que nos anos 80/90 era tão violenta e desacreditada, mas que começou os anos 2000 tão cheia de vida, de arte e transpirando mudanças.

Antigamente, as pessoas tinham vergonha de dizer que moravam no Capão Redondo. Era depreciativo dizer isso em entrevistas de emprego, por exemplo. Conheço gente que preferia esconder e dizer bairros vizinhos na tentativa de amenizar o pensamento alheio.

Bem, isso acabou. Algo que esqueci de dizer na resposta ao amigo Ovidio é que não são só os manos que usam o adesivo em seus carros tunados e seus bonés afudados na cabeça. É uma grande parte do bairro que viu nos dizeres "Capão Redondo - SP" embaixo do logotipo, uma maneira de exibir sua essência, de se afirmar como morador de um bairro que não perdeu completamente a guerra contra a violência (por mais contraditório que isso possa soar).

A loja da 1 da Sul ultrapassou os limites locais e foi parar na Galeria Borbagato, em Santo Amaro. Hoje existe uma outra loja, a Fundão, também local, com a mesma prerrogativa da marca do Ferréz. A diferença é que ela é mais específica para quem mora na famosa Vila citada em discos do Racionais.

A evolução cultural do Capão Redondo é assunto para uma tese de mestrado. Eu não conseguiria citar em tão poucas palavras a quantidade de festas, bibliotecas, debates literários, ações sociais e outra infinidade de eventos culturais que acontecem hoje no local, inspiradas nos moldes da 1 da Sul que, vale ressaltar, é uma grife de roupas ligada diretamente a literatura.

O que posso dizer - com o bairrismo que me é de direito - é que o Capão Redondo foi pioneiro numa fórmula utilizada hoje por diversos outros bairros: conseguiu reverter o convívio com a violência e falta de esperança nos mais diversos campos da produção de arte.

Um comentário:

Maria disse...

Oi!

O Capão Redondo realmente precisa de muitos cuidados, e sua população é bastante atenta, e cobra melhorias. Andei pesquisando sobre o bairro e localizei coisas bem legais, como essas obras aqui - http://migre.me/Gi53 - pena que a maioria da população nem deva ter acesso à internet pra poder usar a rede e lutar por mais melhorias!

Gostei bastante do texto!

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