Ontem eu assisti Agosto Negro, é uma história sobre a comunidade negra norte-americana, mais precisamente sobre George Jackson, um negro que roubou 71 dólares de um posto de gasolina e pegou prisão perpétua. Ficou quatro anos em solitária, lendo clássicos revolucionários que o ajudaram a compor sua crítica sobre o país em que vive. Ficou conhecido por ser militante dos Soledad Brothers, grupo de apoio aos Black Panthers.
De dentro dos muros de San Quentin escreveu cartas à sua família com muitos pensamentos e ideais que construiu na prisão. Todas as correspondências acabaram resultando no livro "Irmãos Soledad". Ainda não consegui encontrar nada sobre este livro em português e creio eu que só exista uma versão do livro em nossa língua em Portugal.
Mas o filme é demais, recomendo.
Carta aos braços cruzados
por Robson Assis | tags Crítica | COMENTE!
Que o silêncio da verdade o puna, esta é minha mais profana e singela maldição. Achou que ia ser enviado à terra para ser um popstar? Pois é, não aconteceu. E agora o tempo passou, suas chances de se lançar ao mundo com algo brilhante estão ficando cada vez menores e mais distantes. E o que fazer? Sentar em frente ao seu computador e sorrir outra vez, talvez não, mas é o que vai fazer. Irresistível a acomodação, não é, seu parasita? Quando perceber que passou em branco pela história da humanidade, vai então querer morrer. E sozinho, outra vez, no vazio do universo, vai ouvir as vozes e os barulhos deste mundo como algo dizendo que você se ferrou. Só então o silêncio será sua própria liberdade.
O pequeno miserável príncipe
por Robson Assis | tags Letras e Poesia | 25.8.08 COMENTE!
Tenho o mundo na palma das mãos
Mas não existem palmas
É tudo tanto desespero
Tanta militância, tanto erro
Que no fim só me lembro das lágrimas
Deste planeta sujo e evenenado
De pé olho no céu um fardo
A nos carregar e ser por nós carregado
A relutar e insistir na sobrevivência
Todo nosso sublime e insano pecado.
Cada momento passa solene
Deprimente é levar a garganta doente
Por dizer frases malditas
Blasfemar o mundo todo numa frase
Quero deixar tudo isso, mas ainda não é tão tarde
E quando o sol se desfizer em mistério?
Nossa solidão será tanta neste universo
Outro em meio às multidões
Zumbis de nossas próprias convicções
Caminharemos junto neste verso.
Tudo o que aprendemos ser não é nada
Nosso ensaio sobre a vida é uma grande piada
E sua métrica enfadonha me despreza
Até que morto, eu salte pela relva
A descobrir novos deuses e ciladas.
Mas não existem palmas
É tudo tanto desespero
Tanta militância, tanto erro
Que no fim só me lembro das lágrimas
Deste planeta sujo e evenenado
De pé olho no céu um fardo
A nos carregar e ser por nós carregado
A relutar e insistir na sobrevivência
Todo nosso sublime e insano pecado.
Cada momento passa solene
Deprimente é levar a garganta doente
Por dizer frases malditas
Blasfemar o mundo todo numa frase
Quero deixar tudo isso, mas ainda não é tão tarde
E quando o sol se desfizer em mistério?
Nossa solidão será tanta neste universo
Outro em meio às multidões
Zumbis de nossas próprias convicções
Caminharemos junto neste verso.
Tudo o que aprendemos ser não é nada
Nosso ensaio sobre a vida é uma grande piada
E sua métrica enfadonha me despreza
Até que morto, eu salte pela relva
A descobrir novos deuses e ciladas.
A vida continua...
por Robson Assis | tags Contos | 20.8.08 COMENTE!
Péu caminha de lá pra cá no centro movimentado da cidade. É só passar pelo Anhangabaú ao entardecer, naquele horário em que os office-boys se encontram com os vendedores de loja e carros escuros blindados para vê-lo passar com um saco de cola na mão, se der sorte no dia, ele até dorme num lugar coberto, com seu saquinho do lado, dividindo espaço com as baratas e o mau cheiro do centro velho de São Paulo.
Sangue nos olhos desde recém-nascido, Péu não é de deixar qualquer oportunidade passar batido. É dia de show na Tiradentes, milhares de pessoas passam em direção ao local, portando garrafas de bebida, com os mais diversos estilos e cores, malandragens e odores. Ele espera embaixo do viaduto.
Cinco garotos e uma garota passam na frente, se destacando dos outros três atrás. Péu cola na banca que restou pra trás e dá a multa:
- Vai, boyzão, solta uma moeda pra nós aí.
- E aí, mano, suave?
Nunca haviam trocado idéia com ele nestas horas. Geralmente o "boyzão" se caga, dá duas notas de 10, o relógio e sai andando. Péu fica surpreso com a idéia de um cara vir falar algo além de "calma, fica calmo, vou te dar".
- Suave o que, tiozão? Solta o bagulho - Péu tenta outra vez intimidar
- Então, mano, a gente não tem dinheiro não, tio, tamo indo pro show lá que é de graça.
- É memo, e se achar?
- ô, truta, a gente veio lá do Jd. Elba na leste, tamo osso memo.
- Pode cre, mas e os moleque que passaram aí, tem nada também?
- Tem nada, mano, compramos a bebida e viemos.
- Pode cre, moleque, constou a idéia, vocês são pela ordem.
- Firmeza então.
- Mas aí, deixa um gole pra nós desse esquema aí?
Péu pega uma garrafa 600ml que trazia consigo e enche da bebida dos meninos. Os outros três, mais adeptos a fazer amizades com alheios e anônimos, param pra conversar com Péu e abandonam o outro grupo que esperava mais à frente, destacado. Contam de onde vieram, que eram trabalhadores e também suavam frio com a polícia, mas por outro motivo, portavam entorpecentes e tapa da polícia de graça era coisa que ninguém gostava.
O grupo caminha até um dos bancos do Vale e se sentam junto. Conversam, bebem, fumam e começam a dar risada sobre os transeuntes e suas roupas esquisitas. Péu se sentia entre amigos, fato este que não sabia o que era desde 1998, quando o destino lhe tirou de maneira trágica o Bequinha, amigo de infância que, anos depois, ficou sabendo ser seu irmão de sangue por conta das peripécias de sua mãe.
Diz sobre como veio parar na rua para assaltar playboys e ganhar dinheiro diário, conta sobre a outra vida que tinha quando morava num barraco 2x2 na zona oeste e o que aconteceu quando incendiaram a favela em que morava, os primeiros dias na rua, o sopão, a caminhada até o centro e a vida complicada e cruel de hoje.
Conta aos garotos a história de sua vida, desabafa, como dizem os velhos. Logo terminam a garrafa de conhaque bruta que lhes descia o estômago em rasgos absurdos pela garganta. Já relativamente bem consigo mesmo por culpa da bebida, os garotos decidem ir embora para o show que ainda estava longe de começar, mas iriam encontrar seus outros amigos. Se despedem de Péu, que os cumprimenta e agradece por aquela meia hora em que estiveram perto e conseguiram o deixar com a mente distante de tudo o que vivia.
- Firmeza, Péu, demorou, mano, a gente se tromba ainda por aí, cola lá no show?!
- Que nada, boy. A vida continua por aqui, vou ficar no aguardo da vítima.
** A imagem é uma adaptação do flickr do Juca Fii
Sangue nos olhos desde recém-nascido, Péu não é de deixar qualquer oportunidade passar batido. É dia de show na Tiradentes, milhares de pessoas passam em direção ao local, portando garrafas de bebida, com os mais diversos estilos e cores, malandragens e odores. Ele espera embaixo do viaduto.
Cinco garotos e uma garota passam na frente, se destacando dos outros três atrás. Péu cola na banca que restou pra trás e dá a multa:
- Vai, boyzão, solta uma moeda pra nós aí.
- E aí, mano, suave?
Nunca haviam trocado idéia com ele nestas horas. Geralmente o "boyzão" se caga, dá duas notas de 10, o relógio e sai andando. Péu fica surpreso com a idéia de um cara vir falar algo além de "calma, fica calmo, vou te dar".
- Suave o que, tiozão? Solta o bagulho - Péu tenta outra vez intimidar
- Então, mano, a gente não tem dinheiro não, tio, tamo indo pro show lá que é de graça.
- É memo, e se achar?
- ô, truta, a gente veio lá do Jd. Elba na leste, tamo osso memo.
- Pode cre, mas e os moleque que passaram aí, tem nada também?
- Tem nada, mano, compramos a bebida e viemos.
- Pode cre, moleque, constou a idéia, vocês são pela ordem.
- Firmeza então.
- Mas aí, deixa um gole pra nós desse esquema aí?
Péu pega uma garrafa 600ml que trazia consigo e enche da bebida dos meninos. Os outros três, mais adeptos a fazer amizades com alheios e anônimos, param pra conversar com Péu e abandonam o outro grupo que esperava mais à frente, destacado. Contam de onde vieram, que eram trabalhadores e também suavam frio com a polícia, mas por outro motivo, portavam entorpecentes e tapa da polícia de graça era coisa que ninguém gostava.
O grupo caminha até um dos bancos do Vale e se sentam junto. Conversam, bebem, fumam e começam a dar risada sobre os transeuntes e suas roupas esquisitas. Péu se sentia entre amigos, fato este que não sabia o que era desde 1998, quando o destino lhe tirou de maneira trágica o Bequinha, amigo de infância que, anos depois, ficou sabendo ser seu irmão de sangue por conta das peripécias de sua mãe.
Diz sobre como veio parar na rua para assaltar playboys e ganhar dinheiro diário, conta sobre a outra vida que tinha quando morava num barraco 2x2 na zona oeste e o que aconteceu quando incendiaram a favela em que morava, os primeiros dias na rua, o sopão, a caminhada até o centro e a vida complicada e cruel de hoje.
Conta aos garotos a história de sua vida, desabafa, como dizem os velhos. Logo terminam a garrafa de conhaque bruta que lhes descia o estômago em rasgos absurdos pela garganta. Já relativamente bem consigo mesmo por culpa da bebida, os garotos decidem ir embora para o show que ainda estava longe de começar, mas iriam encontrar seus outros amigos. Se despedem de Péu, que os cumprimenta e agradece por aquela meia hora em que estiveram perto e conseguiram o deixar com a mente distante de tudo o que vivia.
- Firmeza, Péu, demorou, mano, a gente se tromba ainda por aí, cola lá no show?!
- Que nada, boy. A vida continua por aqui, vou ficar no aguardo da vítima.
** A imagem é uma adaptação do flickr do Juca Fii
Lançamento - Sérgio Vaz
por Robson Assis | tags Notícias | COMENTE!
E hoje é dia do lançamento do livro do poeta Sérgio Vaz no Sarau da Cooperifa, no Piraporinha, zona sul de São Paulo (atrás da igreja, é só ir chegando que a multidão já estará na rua). Quem estiver presente vai testemunhar a celebração da alegria e da perseverança de um dos maiores escritores da periferia paulistana.
Um brinde!
SARAU DA COOPERIFA E TRAMAS URBANAS APRESENTAM:
COOPERIFA, ANTROPOFAGIA PERIFÉRICA, livro de Sérgio Vaz
Dia 20 de agosto, às 20h no Sarau da Cooperifa
O Livro conta a história do sarau que reúne centenas de pessoas da periferia de São Paulo em torno da poesia.
Em "Cooperifa, antropogafia periférica", Sérgio Vaz, poeta e criadorda Cooperifa conta um pouco da sua trajetória de vinte anos de poesia e agitação cultural, e sobre o sarau da Cooperifa, movimento cultural que congrega centenas de pessoas em torno da poesia, e que tem se transformado em grande foco de resistência na cultura brasileira.
Do primeiro livro em 1988 à produção da Semana de arte moderna da periferia, está tudo ali, numa pequena viagem nesses vinte anos decorreria do poeta.
O livro é o Sétimo volume da coleção Tramas Urbanas, da Aeroplano Editora.
SARAU DA COOPERIFA
Bar do Zé Batidão
Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana (Zona sul/SP)
Info.: 5891-7403 / 7207-4748
Aeroplano Editora
Categoria: Não-ficção
Número de páginas: 284
Formato: 12x19cm
preço: R$25,00 (na Cooperifa)
Um brinde!
SARAU DA COOPERIFA E TRAMAS URBANAS APRESENTAM:
COOPERIFA, ANTROPOFAGIA PERIFÉRICA, livro de Sérgio Vaz
Dia 20 de agosto, às 20h no Sarau da Cooperifa
O Livro conta a história do sarau que reúne centenas de pessoas da periferia de São Paulo em torno da poesia.
Em "Cooperifa, antropogafia periférica", Sérgio Vaz, poeta e criadorda Cooperifa conta um pouco da sua trajetória de vinte anos de poesia e agitação cultural, e sobre o sarau da Cooperifa, movimento cultural que congrega centenas de pessoas em torno da poesia, e que tem se transformado em grande foco de resistência na cultura brasileira.
Do primeiro livro em 1988 à produção da Semana de arte moderna da periferia, está tudo ali, numa pequena viagem nesses vinte anos decorreria do poeta.
O livro é o Sétimo volume da coleção Tramas Urbanas, da Aeroplano Editora.
SARAU DA COOPERIFA
Bar do Zé Batidão
Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana (Zona sul/SP)
Info.: 5891-7403 / 7207-4748
Aeroplano Editora
Categoria: Não-ficção
Número de páginas: 284
Formato: 12x19cm
preço: R$25,00 (na Cooperifa)
O Opala
por Robson Assis | tags Contos | COMENTE!
Era outro dia como estas terças-feiras comuns. Renato tinha acabado de chegar do trabalho e estava a trocar idéia com os seus, no bar do Maurinho, ali mesmo, na vila. Dizia algo sobre como a Veraneio Cinza tinha passado quase tirando tinta de seu carro, com dois manos do lado de dentro. Imaginou em uma fração de segundos como estavam se sentindo aqueles dois, talvez sardinhas enlatadas fossem melhor tratadas e continuou a divagação sobre o que aconteceria se o carro amassasse.
- Imagina se rala... Mano, sei lá, na hora é foda, o sangue sobe, acho que vou atrás.
O Opalão era azul, com quase tudo original, a não ser o som que Tinho, como Renato era conhecido, havia instalado pra "manter o peso da caranga", segundo ele próprio. Pintura metálica, subwoofer, módulo de seis canais, tela de DVD. Se orgulhava até hoje pelo carro estar no principal cartaz daquela oficina de Tuning do centro da cidade.
Tinho era um aficcionado pelo carro. Vivia por ele, trabalhava e honrava todas as suas dívidas, exceto se um acaso tornasse o veículo alvo da degradação do tempo. E todos os seis anos em que estava com o carro, jamais deixara sequer a lâmpada da seta quebrada por mais de dois dias.
- Desce uma gelada que eu tô tenso, pede o malandro.
De praxe, sai por instantes do bar e liga o som e se serve de um copo. Estava tocando aquele programa de rádio que todo mundo do bairro ouvia, então ele ajudava a transmitir aumentando o volume para que até as ruas mais distantes da vila pudessem escutar. Volta cantando Tupac Shakur e gesticulando aos amigos, como se fosse o próprio, em pessoa.
Três cervejas e Nelsinho dichavava a história do Corinthians por pelo menos 15 minutos. Dizia sobre como ele foi parar na segunda divisão, a fraqueza da diretoria até a falta de firmeza da delegação. Tinho ouvia comovido a história de seu time do coração e trocava poucas palavras com o malandro, de tanta atenção que prestava ao que ouvia. havia esquecido dos policiais, quando dois PM's entram pela porta:
- Vai, mão pra cima, filho da puta, mão pra cima, vagabundo!!
A primeira frase do PM depois da geral e das perguntas-procedimento nos seis malandros que estavam no bar foi: "de quem que é essa porra desse carro aqui fora?". Tinho levanta a mão e a cabeça, trêmulo, mas de certa forma, acostumado com essa abordagem policial. Após vários gritos do PM, o primeiro tapa na cara. Tinho novamente abaixa a cabeça e ouve, sem negar nada do que lhe era questionado.
O tempo foi passando, 20, 30 minutos e o policial "embarreirando", palavra com a qual ele contaria o fato na sexta-feira, quando estivesse no rolê com seus parceiros. O fardado caminhava a passos curtos, com um discurso sobre a moral e respeito, que onde eles moravam era um lixo e isso e aquilo, eram "todos vagabundos" e mais. Às vezes parava na frente de um dos suspeitos-de-crime-algum e "pedia" para levantar a cabeça, mandava outra sessão de descarrego de palavras chulas. Seguia o enquadro.
Chamou então os malandros pra fora do bar e pediu para que Maurinho "gentilmente" fechasse as portas àquela hora. Encostados no muro, de braços pra trás, na rua relativamente vazia do boteco, os fulanos, entre eles Tinho, escutavam mais asneiras do PM. "Puta porco insuportável" era o que rondava a mente de todos.
A Veraneio cinza estava parada, dois homens, um em pé e um de dentro do carro, faziam a contenção, enquanto o vacilão do PM, já menos tenso, andou perto do Opala de Tinho e, sem querer esbarrou o cassetete no retrovisor.
- Não, caral..! - Sai espontâneo o grito de Tinho
- Que foi, ladrão, você é maluco? - peita o policial, de encontro ao rapaz.
- Nada mano, é que...
- Mano?!??
Algumas cacetadas e gemidos de dor fizeram um dos PM's na Veraneio levantar e ir "ajudar" o outro policial a "conter a ira" do "suspeito".
Tinho ainda estava no chão quando o policial manda os outros irem embora correndo, "que aquele ali não ia conseguir correr mesmo". Sentam o malandro de frente pro carro e quebram os dois retrovisores, lanternas traseiras e furam o pneu do carro.
- Tá liberado, filho da puta.
O rapaz, sentado no chão da calçada fria da vila, vê seu carro destruído pelos verdadeiros vândalos da ordem social. Além do estrago feito pela vistoria atrás de entorpecentes e armas, agora prejuízos concretos. Ele pega então, do chão, um caco de vidros caído de seu possante e joga na rua, em forma de lamentos. Pensou com seus botões em como seria melhor se eles tivessem apenas ralado seu carro.
- Imagina se rala... Mano, sei lá, na hora é foda, o sangue sobe, acho que vou atrás.
O Opalão era azul, com quase tudo original, a não ser o som que Tinho, como Renato era conhecido, havia instalado pra "manter o peso da caranga", segundo ele próprio. Pintura metálica, subwoofer, módulo de seis canais, tela de DVD. Se orgulhava até hoje pelo carro estar no principal cartaz daquela oficina de Tuning do centro da cidade.
Tinho era um aficcionado pelo carro. Vivia por ele, trabalhava e honrava todas as suas dívidas, exceto se um acaso tornasse o veículo alvo da degradação do tempo. E todos os seis anos em que estava com o carro, jamais deixara sequer a lâmpada da seta quebrada por mais de dois dias.
- Desce uma gelada que eu tô tenso, pede o malandro.
De praxe, sai por instantes do bar e liga o som e se serve de um copo. Estava tocando aquele programa de rádio que todo mundo do bairro ouvia, então ele ajudava a transmitir aumentando o volume para que até as ruas mais distantes da vila pudessem escutar. Volta cantando Tupac Shakur e gesticulando aos amigos, como se fosse o próprio, em pessoa.
Três cervejas e Nelsinho dichavava a história do Corinthians por pelo menos 15 minutos. Dizia sobre como ele foi parar na segunda divisão, a fraqueza da diretoria até a falta de firmeza da delegação. Tinho ouvia comovido a história de seu time do coração e trocava poucas palavras com o malandro, de tanta atenção que prestava ao que ouvia. havia esquecido dos policiais, quando dois PM's entram pela porta:
- Vai, mão pra cima, filho da puta, mão pra cima, vagabundo!!
A primeira frase do PM depois da geral e das perguntas-procedimento nos seis malandros que estavam no bar foi: "de quem que é essa porra desse carro aqui fora?". Tinho levanta a mão e a cabeça, trêmulo, mas de certa forma, acostumado com essa abordagem policial. Após vários gritos do PM, o primeiro tapa na cara. Tinho novamente abaixa a cabeça e ouve, sem negar nada do que lhe era questionado.
O tempo foi passando, 20, 30 minutos e o policial "embarreirando", palavra com a qual ele contaria o fato na sexta-feira, quando estivesse no rolê com seus parceiros. O fardado caminhava a passos curtos, com um discurso sobre a moral e respeito, que onde eles moravam era um lixo e isso e aquilo, eram "todos vagabundos" e mais. Às vezes parava na frente de um dos suspeitos-de-crime-algum e "pedia" para levantar a cabeça, mandava outra sessão de descarrego de palavras chulas. Seguia o enquadro.
Chamou então os malandros pra fora do bar e pediu para que Maurinho "gentilmente" fechasse as portas àquela hora. Encostados no muro, de braços pra trás, na rua relativamente vazia do boteco, os fulanos, entre eles Tinho, escutavam mais asneiras do PM. "Puta porco insuportável" era o que rondava a mente de todos.
A Veraneio cinza estava parada, dois homens, um em pé e um de dentro do carro, faziam a contenção, enquanto o vacilão do PM, já menos tenso, andou perto do Opala de Tinho e, sem querer esbarrou o cassetete no retrovisor.
- Não, caral..! - Sai espontâneo o grito de Tinho
- Que foi, ladrão, você é maluco? - peita o policial, de encontro ao rapaz.
- Nada mano, é que...
- Mano?!??
Algumas cacetadas e gemidos de dor fizeram um dos PM's na Veraneio levantar e ir "ajudar" o outro policial a "conter a ira" do "suspeito".
Tinho ainda estava no chão quando o policial manda os outros irem embora correndo, "que aquele ali não ia conseguir correr mesmo". Sentam o malandro de frente pro carro e quebram os dois retrovisores, lanternas traseiras e furam o pneu do carro.
- Tá liberado, filho da puta.
O rapaz, sentado no chão da calçada fria da vila, vê seu carro destruído pelos verdadeiros vândalos da ordem social. Além do estrago feito pela vistoria atrás de entorpecentes e armas, agora prejuízos concretos. Ele pega então, do chão, um caco de vidros caído de seu possante e joga na rua, em forma de lamentos. Pensou com seus botões em como seria melhor se eles tivessem apenas ralado seu carro.
Anonimato S/A
por Robson Assis | tags Contos | 15.8.08 2 Comentários
Saiu um conto meu (Paranóia Passional) no Anonimato S/A. O site traz histórias que não entram para a história, como o próprio Luiz Alberto, dono do site, diz. Escrevo na seção de crônicas e contos chamadas Amores Urbanos e daqui pra frente deve sair uma parada mensal minha no site dele, não deixe de conferir.
Recomendo também as matérias de capa do site, excelentes, informativas e reais.
http://www.anonimatosa.com
Recomendo também as matérias de capa do site, excelentes, informativas e reais.
http://www.anonimatosa.com
Bossa nova para o povo?
por Robson Assis | tags Crítica | 14.8.08 1 Comentário
Sacanagem o que fez a Ticketmaster em relação ao show de comemoração dos 50 anos de Bossa Nova, um show no Ibirapuera com Caetano veloso e Roberto Carlos e preços até que acessíveis. O site informou que abriria a venda de ingressos nesta quinta às 10h da manhã. A venda seria feita apenas pela internet e pelo televendas. Imaginou a confusão? Linhas ocupadas, site fora do ar. Muita gente não conseguiu comprar por conta do óbvio congestionamento da página. E isso resultou num dos mais polêmicos espaços para leitores da Folha. Clientes se sentindo enganados, outros especulando sobre uma máfia dos ingressos e inclusive imaginando que os ingressos sequer foram vendidos.
Portanto não se espante se nos dias 25 e 26 o auditório do Ibirapuera estiver lotado de atores e atrizes da Globo, socialites medonhas e cantores falidos de música sertaneja. Espero que alguém cubra a festa da música popular brasileira que convidou apenas brasileiros mais representativos.
Mesmo considerando a hipótese de que alguém tenha conseguido comprar os bilhetes, este é um número ínfimo em relação à demanda que o show poderia esperar.
Eu não ia neste show, fiquei sabendo do negócio todo através da Luciana, mais uma das que tentaram desesperadamente comprar o ingresso. E olha que ela chegou a comparar a apresentação do Rei e do Magrelo baiano ao show do Rolling Stones. O que me comoveu mesmo foi o fato de uma festa à cultura do povo ser promovida em um lugar com 850 lugares e com maneiras tão complicadas de adqurir ingresso.
Falei.
Bom, se alguém tiver interesse, a exposição Bossa 50 está até o dia 24 deste mês no Pavilhão da Bienal, também no Parque Ibirapuera. A entrada é gratuita.
EXPOSIÇÃO BOSSA 50
Onde: Pavilhão da Bienal - Parque do Ibirapuera, São Paulo
Quando: de 15/07 a 24/08, terça a domingo das 10h às 22h
Quanto: entrada franca.
Portanto não se espante se nos dias 25 e 26 o auditório do Ibirapuera estiver lotado de atores e atrizes da Globo, socialites medonhas e cantores falidos de música sertaneja. Espero que alguém cubra a festa da música popular brasileira que convidou apenas brasileiros mais representativos.
Mesmo considerando a hipótese de que alguém tenha conseguido comprar os bilhetes, este é um número ínfimo em relação à demanda que o show poderia esperar.
Eu não ia neste show, fiquei sabendo do negócio todo através da Luciana, mais uma das que tentaram desesperadamente comprar o ingresso. E olha que ela chegou a comparar a apresentação do Rei e do Magrelo baiano ao show do Rolling Stones. O que me comoveu mesmo foi o fato de uma festa à cultura do povo ser promovida em um lugar com 850 lugares e com maneiras tão complicadas de adqurir ingresso.
Falei.
Bom, se alguém tiver interesse, a exposição Bossa 50 está até o dia 24 deste mês no Pavilhão da Bienal, também no Parque Ibirapuera. A entrada é gratuita.
EXPOSIÇÃO BOSSA 50
Onde: Pavilhão da Bienal - Parque do Ibirapuera, São Paulo
Quando: de 15/07 a 24/08, terça a domingo das 10h às 22h
Quanto: entrada franca.
Os primeiros dias da primavera
por Robson Assis | tags Contos | 11.8.08 COMENTE!
A garotinha segura uma pomba branca que tenta a todo custo escapar de suas mãos. Não entende o que é um enterro, não entende que sua mãe está dentro daquele caixão e que jamais voltará. Morta em tiroteio entre bandidos e policiais: lugar errado, hora errada, a história de suas vidas. O cemitério São Luis cheirava mal como os outros lugares.
O padre discursa, sua família pequena chora exaustivamente ao lado do caixão, jogam flores, se negam a acreditar. A vida é dura para quem nasce aqui. Um dia ela vai entender quando ver que existe gente de verdade que tem aquele iate da novela, compra roupas em lojas tão caras quanto o barraco em que ela vive, às vezes mais caras, a vida real falha.
Dois funcionários se encarregam de destinar o caixão ao seu devido buraco, vizinho de outros corpos e histórias, algumas inocentes, outras tão culpadas quanto a própria morte. Seu pai joga uma flor e ajoelha, em prantos, a garotinha ainda não entende nada até que começam a jogar terra sobre o leito final de sua mãe.
Ela vai até perto e olha para o pai procurando explicação. As primeiras lágrimas saem de seus olhos como o ácido sobre a rosa mais pura. Nunca havia pensado sobre a morte, sobre a existência ou a falta dela. Talvez a vida fosse outra dali pra frente. A terra cobria cada vez mais o caixão de madeira de sua mãe. Chorava insuportavelmente durante um sol negro de um dos primeiros dias da primavera.
Só então soltou a pomba branca, que voou livre sobre o céu azul esperança do Parque Santo Antônio.
O padre discursa, sua família pequena chora exaustivamente ao lado do caixão, jogam flores, se negam a acreditar. A vida é dura para quem nasce aqui. Um dia ela vai entender quando ver que existe gente de verdade que tem aquele iate da novela, compra roupas em lojas tão caras quanto o barraco em que ela vive, às vezes mais caras, a vida real falha.
Dois funcionários se encarregam de destinar o caixão ao seu devido buraco, vizinho de outros corpos e histórias, algumas inocentes, outras tão culpadas quanto a própria morte. Seu pai joga uma flor e ajoelha, em prantos, a garotinha ainda não entende nada até que começam a jogar terra sobre o leito final de sua mãe.
Ela vai até perto e olha para o pai procurando explicação. As primeiras lágrimas saem de seus olhos como o ácido sobre a rosa mais pura. Nunca havia pensado sobre a morte, sobre a existência ou a falta dela. Talvez a vida fosse outra dali pra frente. A terra cobria cada vez mais o caixão de madeira de sua mãe. Chorava insuportavelmente durante um sol negro de um dos primeiros dias da primavera.
Só então soltou a pomba branca, que voou livre sobre o céu azul esperança do Parque Santo Antônio.
A liberdade (ou a falta de)
por Robson Assis | tags Crítica | 8.8.08 COMENTE!
Uma dor estrondosa no peito insiste que eu desista. Todos os dias de manhã acordar, condução, trabalho, rotina desde a adolescência. Se passaram alguns anos e a batalha por sobrevivência continua. Na única vez em que tive a oportunidade de ter um trabalho digno, próximo à minha casa, fui eliminado por não me portar como um executivo, um homem de negócios e ter prerrogativas mais simples e humanas sobre existir.
Sofrimento e confronto de ideais. Não quero me render, não quero ser mais uma vítima. O sistema nos joga num poço sem fundo e nos deixa caçando saídas, mesmo sabendo que possivelmente jamais as encontraremos. No debate sobre literatura, dias atrás, uma frase não quis mais sair da minha mente: "A vida não é um ensaio". Temos uma tentativa pra fazer tudo dar certo. E se quisermos seguir até o fim nessa, vamos ter o que nos foi reservado pela ordem natural das coisas. Existem caminhos demais para escolher. E dependendo de sua cor, origem, raça e religião, isso pode se tornar um labirinto sem porta de saída para a felicidade.
A crença foi criada pelos homens para que não se sentissem tão solitários no universo. Assim como os extra-terrestres e TV a cabo. Portanto acredito que, por mais que se estude, seja o idealizador de um projeto escabroso na NASA, que vai mudar a vida de milhares de pessoas, lhe render muita grana na conta e uma foto sua estampando a capa dos melhores do ano na revista People, você ainda é tão ignorante quanto aquele moleque soltando pipa da laje no Jd. Santo Eduardo.
Inventem o remédio para a vida eterna, pílulas de emagrecimento precoce, poltronas massageadoras, a cura do câncer, das doenças venéreas, da dependência química, da miséria intelectual e humana, reinventem o mundo oba-oba e acabem com o mercado. E aí pergunte-se: O que estou fazendo aqui neste computador, com estas pessoas ao meu redor e pensando sobre isso? Você vai ver que o mundo pode ser eterno, mas nossa liberdade é por demais limitada.
Sofrimento e confronto de ideais. Não quero me render, não quero ser mais uma vítima. O sistema nos joga num poço sem fundo e nos deixa caçando saídas, mesmo sabendo que possivelmente jamais as encontraremos. No debate sobre literatura, dias atrás, uma frase não quis mais sair da minha mente: "A vida não é um ensaio". Temos uma tentativa pra fazer tudo dar certo. E se quisermos seguir até o fim nessa, vamos ter o que nos foi reservado pela ordem natural das coisas. Existem caminhos demais para escolher. E dependendo de sua cor, origem, raça e religião, isso pode se tornar um labirinto sem porta de saída para a felicidade.
A crença foi criada pelos homens para que não se sentissem tão solitários no universo. Assim como os extra-terrestres e TV a cabo. Portanto acredito que, por mais que se estude, seja o idealizador de um projeto escabroso na NASA, que vai mudar a vida de milhares de pessoas, lhe render muita grana na conta e uma foto sua estampando a capa dos melhores do ano na revista People, você ainda é tão ignorante quanto aquele moleque soltando pipa da laje no Jd. Santo Eduardo.
Inventem o remédio para a vida eterna, pílulas de emagrecimento precoce, poltronas massageadoras, a cura do câncer, das doenças venéreas, da dependência química, da miséria intelectual e humana, reinventem o mundo oba-oba e acabem com o mercado. E aí pergunte-se: O que estou fazendo aqui neste computador, com estas pessoas ao meu redor e pensando sobre isso? Você vai ver que o mundo pode ser eterno, mas nossa liberdade é por demais limitada.
Disputas internas pelo mesmo território
por Robson Assis | tags Crítica | 6.8.08 COMENTE!
Depois de Hiroshima descobrimos que o mundo tem um botão 'delete'. Há quem diga que não morreremos assim, há quem seja pessimista o bastante para acreditar num apocalipse bíblico cheio de luzes, cantos e arcanjos em que depois só haverá escuridão. Eu acredito na desgraça social que a política nos entrega na bandeja, acredito que eles criaram este mundo em que o ódio nasce onde quer que se plante.
Há exatos 63 anos atrás, uma bomba despojou uma cidade inteira. Entregue, rendida e mesmo assim, aniquilada. Matar por teste foi a ordem. O fato originou a corrida armamentista que tanto nos lembra os livros de história, embora eu não saiba de algum destes livros que possua um capítulo sobre o sangue derramado tão necessário para construir cada episódio de nossa existência.
Declaradamente, Israel, Irã, Coréia do Norte e Líbia dispõem de conhecimento para produção de armas nucleares, isso continua deixando populações inteiras de vítimas que mal sabem o que acontece em seus bairros, quanto mais em seus países.
Einstein disse não saber quais armas serão usadas na III Guerra Mundial, mas tinha certeza que a IV seria disputada com paus e pedras. Eu já acredito que exista uma guerra que travamos em nós mesmos todos os dias para tentar ser um pouco mais lúcidos e extremamente menos lúdicos neste mundo louco. Uma guerra que, por enquanto, ainda estamos perdendo.
Há exatos 63 anos atrás, uma bomba despojou uma cidade inteira. Entregue, rendida e mesmo assim, aniquilada. Matar por teste foi a ordem. O fato originou a corrida armamentista que tanto nos lembra os livros de história, embora eu não saiba de algum destes livros que possua um capítulo sobre o sangue derramado tão necessário para construir cada episódio de nossa existência.
Declaradamente, Israel, Irã, Coréia do Norte e Líbia dispõem de conhecimento para produção de armas nucleares, isso continua deixando populações inteiras de vítimas que mal sabem o que acontece em seus bairros, quanto mais em seus países.
Einstein disse não saber quais armas serão usadas na III Guerra Mundial, mas tinha certeza que a IV seria disputada com paus e pedras. Eu já acredito que exista uma guerra que travamos em nós mesmos todos os dias para tentar ser um pouco mais lúcidos e extremamente menos lúdicos neste mundo louco. Uma guerra que, por enquanto, ainda estamos perdendo.
O Rap atura a literatura?
por Robson Assis | tags Notícias | COMENTE!
Sabe uma dessas coisas que por destino acabamos conhecendo? Acabei de pegar emprestado um exemplar do Guia da Periferia, um guia cultural em papel couché, gratuito e tudo mais, bem simples, com poucas páginas. Lá encontrei tudo que é samba de quebrada, tudo que é show de madrugada e conheci a FLAP, uma feira literária que acontece em São Paulo faz três anos.
Hoje, às 20h, acontece um evento sobre literatura e rap, lá na rua da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Capão Redondo. Se nada der errado (trânsito no Rodoanel, carro quebrado, essas coisas) estarei por lá.
A FLAP - alguém sabe o que significa FLAP? - vai até sexta-feira, aproveite.
Debate Zona Franca V: o RAP atura a literatura? (e vice-versa)
Horário: 20h
Mediação: Caco Pontes
- Walter Garcia (professor – PUC)
- Trindade (MC - Brasil)
- Martín Barea Mattos (poeta - Uruguai)
- Ferréz (escritor - Brasil)
Após a mesa haverá Jam-freestyle e performances com os convidados da mesa, além da participação de artistas locais e do MC Gaspar (Z'África - Brasil).
Fábrica de Criatividade
Rua Dr. Luís da Fonseca Galvão, 248 - Capão Redondo (Zona Sul)
Telefone: 5511-0055
Lotação: 100 lugares
Grátis!
Hoje, às 20h, acontece um evento sobre literatura e rap, lá na rua da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Capão Redondo. Se nada der errado (trânsito no Rodoanel, carro quebrado, essas coisas) estarei por lá.
A FLAP - alguém sabe o que significa FLAP? - vai até sexta-feira, aproveite.
Debate Zona Franca V: o RAP atura a literatura? (e vice-versa)
Horário: 20h
Mediação: Caco Pontes
- Walter Garcia (professor – PUC)
- Trindade (MC - Brasil)
- Martín Barea Mattos (poeta - Uruguai)
- Ferréz (escritor - Brasil)
Após a mesa haverá Jam-freestyle e performances com os convidados da mesa, além da participação de artistas locais e do MC Gaspar (Z'África - Brasil).
Fábrica de Criatividade
Rua Dr. Luís da Fonseca Galvão, 248 - Capão Redondo (Zona Sul)
Telefone: 5511-0055
Lotação: 100 lugares
Grátis!
Cante pro céu
por Robson Assis | tags Crítica | 4.8.08 COMENTE!
Um samba de duas notas só, com todos cantando ao redor da mesa, de preferência espantando o pior. A tarde de domingo nos deixa indecisos sobre como agimos por nossas vidas. É a verdade de quem não se contenta apenas com o pó. De novo o dó, na melodia a nota menor. Dizendo sobre amor, cantamos alto em direção ao céu que espera seus malditos réus, os cúmplices natos, heróis abstratos, filhos bastardos. Que refrão ingrato cantava Cartola, o trovador do pessimismo. Óculos na cara e doce fala: "de cada amor tu herdarás só o cinismo". Me traga um gole de esperança nessa mesa cheia, me traga outra cerveja. Abre a roda, que recomece a dança! Cante pro céu como criança. Vamos festejar nossa solidão e dar asas à nossa esperança.
Ao desespero da vida
por Robson Assis | tags Letras e Poesia | 1.8.08 COMENTE!
Durmo à sombra de minhas crenças
Sonho como molduras vazias
As quais não tenho sabedoria
Solidão, a minha doença.
Um trago de mal grado no cigarro
Para fingir ter algo em comum com a morte
E, quem sabe, se tiver sorte
Me tirem mais esse fardo.
Sou escravo de meus próprios ideais
Quem sabe um dia a vida valha
Desconhecer essa verdade canalha
A culpa que existe em estar vivo
É ser refém num calabouço de renegados
Da verdade absoluta com a qual fomos criados.
Sonho como molduras vazias
As quais não tenho sabedoria
Solidão, a minha doença.
Um trago de mal grado no cigarro
Para fingir ter algo em comum com a morte
E, quem sabe, se tiver sorte
Me tirem mais esse fardo.
Sou escravo de meus próprios ideais
Quem sabe um dia a vida valha
Desconhecer essa verdade canalha
A culpa que existe em estar vivo
É ser refém num calabouço de renegados
Da verdade absoluta com a qual fomos criados.
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