As décadas de 70/80, cerne de toda essa cultura que hoje agrega cada vez mais seguidores, nos entregou o hip-hop e suas primeiras rimas, moinhos de vento, scratches e bombers na parede. E hoje, os precursores de toda essa história colhem seus louros, se não apenas em dinheiro, também em consideração e respeito.
Somam-se quatro programas de rap em São Paulo, na rádio 105FM, um programa na TV aberta, o Manos e Minas que, por ter sua continuidade tão batalhada, tornou-se também, neste 2010, um tópico indiscutível para a história do rap nacional.
Vivemos o começo de uma nova década onde já se debate com menos frequência a virtualização da música, e ainda assim, um MC de talento e vontade surpreendentes consegue montar e vender, sozinho, 10 mil cópias de um disco produzido em casa, com a ajuda de amigos. Se ele não pode ter o direito dos discos de ouro no Faustão, o hip-hop entra em cena e, como um pai que acende a vela do bolo, faz sua própria homenagem.
O graffiti está nos principais museus do mundo, DJs e Bboys ganham respeito, são valorizados enquanto artistas, cotados para ministrar workshops sociais na periferia e trabalhar nas brechas do Estado, o limbo sócio cultural em que nasce a população menos favorecida.
Na internet, o hip-hop está mais presente do que nunca, com portais de informação e debate como a Central Hip-Hop, o Rapevolusom e o Rap Nacional, blogs especializados que trabalham com informação mais focada, reflexiva e detalhista como o Per Raps, XXL Co e Do Lado de Cá. Além das milhares de colaborações e blogs com menos acessos diários, espalhados pela rede, como este em que você está.
Sem falar nos produtores de filmes, como o Jeferson De, responsável pelo já tão premiado Bróder, sobre o Capão Redondo; e o Alessandro Buzo, que recebeu medalha de menção honrosa no 18º Gramado Cine Vídeo pelo documentário Profissão MC; os saraus na periferia da cidade seguem ganhando cadeiras cativas nas palestras das bienais e conquistando espaços cada vez mais inusitados por todo o Brasil. Jornalistas como o Gilberto Yoshinaga e Jessica Balbino, são essenciais para a cultura com seus projetos pessoais, coberturas e comprometimento, guiando os meus caminhos (e o de muitos outros como eu) com suas lanternas, ainda que quilômetros à frente dos meus pés.
Apesar de toda essa evolução e sem uma busca aprofundada a respeito do assunto, as críticas esparsas sobre o hip-hop nos veículos de imprensa tratam esse pequeno pedaço de toda a história negra como uma parte pobre da cultura popular, como um exemplo claro da arte emburrecida e banalizada. A culpa, como sempre, é direcionada às massas por algum erro de percurso com os trilhos excludentes da arte.
Que desculpem o ego, a pompa e circunstância, mas hoje a festa é apenas deste lado. A toda essa catarse de falso moralismo da mídia, o Hip-Hop manda um abraço e, incisivo, deixa o aviso pelas palavras de Thaíde: 'NADA PODE ME PARAR'.
***
Robson Assis, jornalista, conheceu o hip-hop em 1998, enquanto se divertia com os amigos num hidrante quebrado, na periferia de São Paulo. É feliz proprietário de seus blogs, seu carro, uma vasta coleção de livros e do coração de uma garota. Além disso, escreve perfis próprios em terceira pessoa, só por diversão.
MAIS SOBRE OS 36 ANOS DE HIP-HOP
- Central Hip-Hop | Hip-Hop, 36 anos: história e reflexões
2 comentários:
Gostaria de lembrar com precisão quando foi que eu comecei a ouvir o Rap Tupiniquim. Me lembro de ter uns 10 anos e ouvir umas musicas do N Dee Naldinho, tipo "A Lagartixa, a Lagartixa, a Lagartixa na parede".
Depois o projeto Rap Brasil na 98,5 se eu não me engano, uns shows no Rosas de Ouro, como o épico lançamento do "Raio X do Brasil" dos Racionais. Mas o que importa mesmo é ver que, mesmo que devagar, as coisas vem melhorando pra rapazeada que faz um som pra galera cantar junto e pensar. "Eu podia ter escrito essa parada". Nice post man...Again!!
Nossa ontem 'colei' numa conferência de cultura solidária e conheci um grupo de Hip-Hop - infelizmente a amnésia alcoólica me fez esquecer o nome - e cara: fiquei pretérita com o que vi/ouvi. Letras super politizadas, b-boys impecavelmente coreografados, multidão interagindo e por trás de tudo isso a revelação de que esse grupo tem um puta trabalho solidário com os moleques da periferia do Jd. Novo Osasco.
Comovida estou!
Parabéns pelo texto, perfeito!
P.S. adoro o que vc escreve
Postar um comentário