Memórias do Subsolo, Dostoiévski - Um romance autobiográfico, sobre as pequenas tragédias da vida. As ocasiões em que se impõe certa inferioridade nos atos, não por medo, mas sim pelo prazer de saber o que está de fato acontecendo. Nosso verdadeiro subsolo, o livro ensina, é quando rastejamos por querer entender demais o mundo que nos rodeia. Uma obra inspiradora do escritor russo, um misto de poesia e frustação com uma grande dose de ódio velado nas entrelinhas. Foi escrito na cabeceira de morte da primeira mulher do autor, fiquei sabendo disso depois, o que tornou ainda mais interessante deste ponto de vista. O "homem do subsolo" faz uma intensa busca sobre o caráter e natureza humana, às vezes com ironia, mas sempre trazendo o leitor a participar da narrativa, trabalhando seus fatos como uma grande conversa sobre existencialismo. Um pequeno livro, mas não se engane: ele sabe ser denso quando é necessário.
Alta Fidelidade, Nick Hornby - A história de Rob Flemming, um homem de meia idade, dono de uma loja de discos à beira da falência e apaixonado por discos e música pop. Começa o livro apresentando cinco mulheres de sua vida que levaria para uma ilha deserta e descreve relacionamentos passados sempre se referindo à música pop: "As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop". Vale ressaltar, ele passa o livro todo fazendo listas top 5 com seus amigos, funcionários da loja: melhores filmes de determinada atriz, músicas de determinada banda, até empregos que gostaria de ter além de sua loja entram nos assuntos. Com isso, vive uma busca por amadurecimento na vida, profissional e amorosamente falando. Ele chega a se questionar como um adolescente imaturo como em "até que idade a gente tem que chegar para que essas coisas não aconteçam?". É o segundo romance de Nick Hornby e sem dúvida o mais famoso. Existe, inclusive, uma versão adaptada para o cinema, uma comédia com John Cusack e Jack Black.
1984, George Orwell - Romance distópico, baseado em um regime totalitarista, conta a história de Winston, um funcionário do governo que se revolta contra o Grande Irmão, o ícone maior do Poder. O pano de fundo da obra remete a uma metáfora sobre o poder e como ele pode levar as pessoas a um raciocínio menor sobre a vida e a existência. Em diálogo, O'Brien - um dos personagens mais marcantes do livro - diz a Winston "O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio, só estamos interessados no poder". Orwell soube misturar neste romance as mais diversas sensações, desde o delírio sentido por Winston quando começa a ver que tudo em sua volta está errado e parece desmoronar, até a agonia extrema, quando o personagem se vê de frente com o inimigo de mãos atadas aos seus próprios medos.
O Apanhador no Campo de Centeio, J.D Salinger - Uma releitura deste clássico do Salinger que eu precisava fazer em homenagem a morte do autor, neste fevereiro. A história de Holden Caufield, um garoto recém expulso de um colégio, que ainda não contou a notícia para seus pais e vive num mundo a parte, em que tenta, de certa forma, entender o comportamento humano. Engraçado como cada vez que se lê o livro, ele toma uma conotação diferente. Da primeira vez que li, lembro que vibrava na história em si, em como ele saía bêbado de um bar para um hotel com uma prostituta e depois dormir numa estação de trem e então conversar com sua irmãzinha no museu. E desta vez, fiquei fascinado pela forma que ele pensa sobre a humanidade, nossas convenções, compromissos sociais, a chatice que existe em ser adulto. E Holden é um menino que todos nós já fomos - ou seremos - um dia.
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