Entrevista com Diego Bernal

por Robson Assis | | 23.8.10



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Diego Bernal é um beatmaker de San Antonio, no estado norte americano do Texas, cuja música ultrapassa os limites do hip-hop instrumental, fato este que o levou a assinar contrato com uma gravadora de música eletrônica. Bernal nasceu em uma família de educadores, ativistas e intelectuais, o levando a ser advogado de uma organização de direitos civis nacionais em seu país.

Com dois discos lançados - Besides e For Corners -, a música de Bernal parece caminhar sobre a linha tênue do beat puro e instrumental, sem a necessidade do flerte com a rima, uma vez que a complexa intensidade das batidas cumpre bem o trabalho de criar a perfeita ambientação clássica do rap. Samples extrovertidos e harmonicamente precisos se misturam à música latina em suas composições trabalhadas como obras bastante inusitadas.

Gente fina, aceitou tranquilamente essa entrevista por e-mail, em que fala sobre sua carreira, influências, música digital e inclusive sobre o começo da produção de seu terceiro disco Here for Good.

Robazz: Conta um pouco da sua história, em que fase da sua vida você começou a criar beats? Como isso aconteceu?
Diego Bernal: Obrigado, cara. Eu comecei fazendo beats durante o Ensino Médio, só por diversão e com equipamento básico de DJ, nada muito extravagante. Foi algo que amei e fiz por muitos anos, só para mim mesmo. Não foi tão longe, tempos depois um amigo meu, Ernest Gonzalez, que é dono da Exponential Records me convenceu que o material que eu tinha compilado poderia ser usado num disco decente. Eu nunca esperei que as coisas caminhassem nessa direção, mas fico realmente feliz que tenha acontecido dessa forma.

Robazz: E como define sua música, seu estilo?
Diego Bernal: No meu pensamento é hip-hop instrumental, mas eu acredito que outras pessoas ouvem de diversas outras maneiras, e eu gosto disso. É legal, é beat music. Podemos ficar aqui lançando rótulos o dia todo, mas no final o que temos são os beats... com uma corrente latina.

Robazz: Seus discos são distribuídos gratuitamente nessa rede de informação maravilhosa que é a internet. Como você pensa isso da distribuição de música nos nossos dias?
Diego Bernal: Sabe, sou realmente feliz por não depender de venda de discos pra viver. Conheço artistas com muito mais sucesso e carreiras mais prolíficas em comparação com a minha que ainda lutam pra sobreviver. Dito isto, eu adoro a forma que a música permite ser compatilhada e como ela facilmente viaja através do mundo (essa entrevista agora é a prova real disso), mas eu também acho que as pessoas devem se lembrar que se você quer mais dedicação de um artista, você precisa gastar algum dinheiro com ele. Você gosta do primeiro álbum de alguém? Você quer o segundo? Compre o seu disco.

Eu acho que a música digital é ótima, mas eu também acho que isso cria uma cultura onde a música é descartável. As pessoas ouvem alguma coisa uma ou duas vezes, ou por uma semana, e então deixam de lado. É por isso que eu crio álbuns e não simplesmente singles, porque a experiência com a música se torna mais aprofundada e reflexiva. Eu não quero uma aventura de final de semana, quero um romance completo.

Robazz: Na descrição do disco For Corners, "A música caminha entre camadas de música latina, das triunfantes explosões de chifres até o descontraído groove de melodias lowerider" no que a música latina te complementa e quais foram as influências mais marcantes para a sua música?
Diego Bernal: Eu cresci ao redor do hip-hop, country, heavy metal, discos da Motown, Soul da Filadélfia e música latina. Vindo de San Antonio, nós sempre misturamos nossos gêneros. O soul e o funk do estado têm sido minados até a morte, então pensei em colocar um pouco de mim na música e foi isso o que saiu. Se você me dissecar abrindo meus discos, são estes sons que vão se derramar. Se os Native Tongues remixassem meu bairro, estes dois álbuns (For Corners, Besides) são as linhas que, eu acho, resultariam.

Robazz: A pergunta padrão, conhece algo da música brasileira?
Diego Bernal: Eu conheço um pouco. Não muito e não o suficiente. Compartilha aí, me diga o que ouvir. Sou todo ouvidos.

Robazz: O que você tem ouvido ultimamente?
Diego Bernal: Mexicans With Guns, Flying Lotus, Led Zeppelin, Sharon Jones, The Roots, Erykah Badu, Trio Los Panchos, DJ Dus e o El Michels Affair.

Robazz: Diga-nos sobre os próximos projetos na sua carreira.
Diego Bernal: Tenho alguns remixes pra fazer, e a partir daí eu estou realmente pensando em começar a trabalhar no meu terceiro disco. Eu não espero finalizá-lo até o início de 2012, então curtam o que está disponível! Eu posso te dar o título desse novo trabalho que eu tenho até então, chama-se: "Here for Good". É uma espécie de busca da minha vida dentro e fora da música.

Robazz: Deixe sua mensagem para os beatmakers brasileiros.
Diego Bernal: Acredite em você mesmo. Trate seus trabalhos como arte, não como mercado. Você é bom, é melhor do que imagina. Mais importante de tudo, encontre uma sonoridade que seja sua. Se você fizer isso, todo o resto vai se tornar mais fácil.

Site oficial: http://diegobernal.net

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