(R)evolução é uma coisa

por Robson Assis | | 15.6.10 COMENTE!

Em 2008, o programador Vinicius Kmax causou uma pane na edição Brasileira da Campus Party, evento anual de tecnologia que acontece em vários lugares do mundo. A reação dos organizadores foi menos sadia que a intenção da brincadeira. Kmax foi repreendido e, inclusive, processado pela Telefônica, alvo do "ataque".

Dois anos mais tarde, a mesma Campus Party ainda patrocinada pela mesma empresa convidou para uma de suas palestras Kevin Mitnick, ex-hacker norte-americano que roubou dados de grandes empresas como Nokia e Motorola e que hoje trabalha como consultor de segurança. Não vou julgar o assunto, uma vez que o Gravataí Merengue escreveu esse excelente texto sobre a ironia contida em tudo isso.

Mesmo Brasil, mesmos anos e praticamente a mesma história. O grupo que atacou o vão livre da Bienal em 2008, entra pelas portas da frente do evento. Ainda marginalizada, pouco entendida e desvalorizada, a pichação faz parte da programação da 29ª Bienal de São Paulo como ponto focal de discussões sobre arte e política, exatamente pela subversão da ordem ocorrida em 2008, que ganhou destaque após a prisão da gaúcha Caroline Pivetta da Mota.

Em entrevista ao IG, o pichador Djan Ivson, um dos responsáveis pela ação de 2008 afirma que "a luta na realidade é de legitimar a pichação como cultura brasileira, mas sem tirar nada da essência dela".

Os dois casos tratam de falta de aceitação e oportunidade, repudiados com ações drásticas e julgados de maneira antiquada dados os seus meios (internet e arte). Tanto na história de Kmax quanto na dos pichadores, fica claro que a evolução de pensamento seja de quem patrocina, divulga ou simplesmente aprecia determinado assunto depende também de alguns equívocos que resultem numa visão mais panorâmica da realidade e na ampliação do pensamento.

Mano Brown, Jorge Ben, Zegon, Ganjaman, amém

por Robson Assis | | 14.6.10 2 Comentários

Começo este texto dizendo que corro o risco de passar por fã.

Tem essa parada. Gosto mais dos raps gringos que levam ao passado com bases de violino ou acústicas, com backing vocals gospel, sem o carrasco do auto-tune, sem as batidas chapadas de efeitos eletrônicos. Aquela música que faz você lembrar de 2Pac, Notorious, Wu-Tang Clan e Ruff Riders.

Em comparação, os raps nacionais têm o mesmo efeito quando são misturados à música popular de qualidade. Faz você se sentir a vida sendo contada por gerações diferentes do mesmo universo.

Mano Brown, sua rima, sua levada e sua voz são patrimônios históricos da música brasileira. Tais quais os acordes de Jorge Ben, os refrões vívidos e suas eternas vocalizações. Sem contar com a produção de Daniel Ganjaman e DJ Zegon.

E a Copa do Mundo sob seus pés.



É, passei por fã.

Os livros de maio

por Robson Assis | | 2.6.10 3 Comentários

Leite Derramado, Chico Buarque - Um livro de lamentos. Segunda obra que leio deste autor e como no best seller Budapeste, ao final, chego à sensação de ter lido uma letra de música contada em diversos capítulos. Uma leitura rápida, recomendável e simplista. A história de um senhor internado em um hospital, que relembra fatos de sua infância e adolescência, o poder quase imperial que era designado aos membros de sua família em tempos mais remotos. O grande trunfo é contar histórias através da visão burguesa de um velho à beira da morte, cuja consciência lhe oferece um grande combate afim de não se repetir ou contradizer. A frase mais marcante deste livro: "Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero". Vale a leitura casual, esperta e despretensiosa deste grande autor.

Olho de Gato, Margareth Atwood - Ao receber um convite para ser homenageada em Toronto, no Canadá, cidade onde foi criada, a pintora Elaine Risley começa a refazer toda a trajetória de sua vida por meio de recordações da infância, adolescência até a maturidade. A relação estreita e confusa com seu irmão aficcionado por ciência, seu pais que não cumpriam o papel de maneira significativa como ela via em outras famílias até a amizade com Carol, Grace e Cordelia, amigas de infância, que impunham restrições e pesados jogos psicológicos sempre que podiam. No meio deste embaralhado contexto de convivência pessoal, a protagonista passa a formar uma consciência sólida controversa e baseada naquilo que aprendeu a esquecer. Suas amigas passam, com exceção de Cordelia, amiga que Elaine leva consigo, ao menos em pensamento. Uma história bonita, sobre amadurecimento, mas principalmente, sobre a forma que as pessoas e situações de nossas vidas têm numa visão enriquecida pelo início da velhice.