Luzes apagadas. Hoje o dia não começou bem, pra variar. Alguns sempre voltam a este lugar com expectativas de reencontrar a esperança, ou coisa que o valha. E eles gritam. De noite, eles gritam por dentro, choram, agonizam, morrem e voltam no outro dia, os bastardos.
O cheiro podre exala dentro de nós, a merda desse esgoto que passa aqui ao lado é como um pequeno rio do inferno em que o Diabo não veste Prada e não desfila com sua bela donzela em barquinhos venezianos. Ele caminha sobre túnicas de entulho com cheiro de cadáveres, em pedaços de madeira cobertos de estilhaços de vidro sobre a merda acumulada de ricos imundos que também passa por aqui.
E eu que já não sonho mais estar naquela sala grande, fechada com vidros e quadros, laptops e um telefone sem fio importado, pouco me lixo para os que lá estão. Sei que não gostam de mim e eles sabem que meu ódio por eles talvez seja o triplo. Quem apanha acumula mais sentimentos maus. Só não quero imaginar o que acontece quando a gente coloca todos esses sentimentos pra fora.
Mas o dia segue sem luz. Continuo minha viagem louca pelo mundo afora, mesmo dentro destas grades. Sabe aquela sensação de que tudo vai continuar do mesmo jeito pelo resto de nossas vidas? Aqui isso acontece o tempo todo. Se houvesse um purgatório que levasse só para o inferno, talvez esse fosse o lugar.
Não falava disso, falava sobre expectativas. Só resiste quem as possui. E só é possível tê-las, com o pensamento longe daqui. Além dessa lógica quase que abstrata, existe um sentido mútuo em nossas esperanças. Todas elas nos querem bem, mesmo que tenhamos de fazer o mal para consegui-las. Quem foi o cara que disse "os meios justificam os fins"? Enfim, a esperança segue em mim e talvez só por isso eu ainda esteja vivo, era isso o que queria dizer.
Sobre a luz dessas velas eu tento tampar meus ouvidos para não escutar todo esse silêncio fúnebre que me rodeia. Uma experiência de morte em sua própria vida, sabe. Ser preso em uma estação de trabalho é resumir um espaço de tempo de sua vida em um local quatro por quatro, uma cabine em que você tem direito às suas necessidades básicas de sobrevivência, às vezes menos do que isso. E, acredite, privar você de coisas habituais como ver o sol pela manhã ou ouvir o barulho das árvores balançando, não é tão bom quanto parece ser nos longas metragens de Hollywood.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário