Certas noites, parece que toda a dor profunda do mundo se esconde dentro de nós. E tudo fica escuro de repente. Você sabe do que estou falando. Aquele tipo de conversas que só temos sozinhos. Fazemos planos que não sabemos se vamos concretizar, olhamos o futuro com esperança e medo. Estamos vivos ou estamos vivendo?
Faz um calor infernal em São Paulo.
Vou descer, fumar um cigarro ou dois e esperar que o tempo resolva essa parada.
A/C Deus
por Robson Assis | tags Pessoais | 22.2.09 COMENTE!
Mano, hoje é um domingão de carnaval, você tá longe, trancafiado, e provavelmente com a cabeça cheia de pensamentos do lado de fora destes muros. Olhei pela janela, seu cachorro saiu como se estivesse procurando algo ou alguém. Seu fusca não tá na vaga, isso me deixou mal demais essa manhã. Está tudo do mesmo jeito que você deixou, os moleques continuam, a função, o samba, a cerveja do fim de semana, o bar cheio de maluco a milhão, boneco passeando com a mina no shopping, já não sei se é isso o que pedi a Deus pela nossa quebrada.
Seria mais fácil se não houvesse a bandidagem, as drogas e tudo isso que faz a gente se acomodar, que entra na nossa mente e mora lá dentro, de forma que a gente não escolhe. É preciso ser forte, mano, não se iludir com as bandejas de ouro que nos servem. Agora você deve entender algo além do que eu, seu irmão e muita gente daqui. Não sei se vale deixar sua mãe chorando sozinha no sofá, com a TV ligada pra tentar distrair o pesamento e o coração, ela nunca consegue, eu sinto isso daqui.
É daqui pra frente, disse isso pro seu irmão, que tava sem consolo no dia que te levaram. Não sei quanto tempo isso vai durar, esse aperto, a vontade de te ver de volta por aqui, trocando uma idéia com a gente. Não sei como vai ser esse ano, mas pelos dias que se seguiram até então, vejo que não vai ser fácil. Digo por mim, que te vi crescer como todo mundo, quieto, até que a rua te dominou e te fez parte dela.
Fico pensando na juventude daqui. Posso parecer hipócrita, mas a verdade é que não temos opção além do bar e dos rolês de madrugada. Todo mundo acaba se envolvendo em algo errado, uns mais, outros menos, mas da mesma maneira somos jogados no mundão e do jeito que ele vier a gente abraça.
Guerreiros, temos de ser dia após dia. Saiba que te espero aqui, mano, e que todos os dias me lembro de você. Talvez não do jeito que estava agora, mas uns anos atrás, quando era apenas mais um moleque de skate, tentando pular a lombada de ollie, sem saber de nada do que acontecia lá fora, engraçado saber como a inocência nos fazia tão fortes. Mas uma injeção mínima de raiva nos faz parte do sistema, da estatística. A rua nos envenena, nos deixa fazer parte da família do inferno que querem que a gente seja.
É preciso ter confiança dos dias que vêm a seguir e esperar pelo bem. Voltei a rezar esta semana, talvez a dor de saber que você está numa cela, jogado com outro monte de gente, cada qual com sua história, me faz orar com mais fervor do que de costume. Te deixo, ao menos na idéia, aos cuidados do Deus em que acredito, não o deus dos Zé povinho que nos considera filhos bastardos, que aponta o dedo na nossa cara e diz que estamos sempre errados. Peço para aquele Deus que pra mim é a representação da criação e do bem comum e não deixaria nada de ruim acontecer contigo.
Mando vibrações positivas, esperança e fé, de quem realmente acredita que tudo vai melhorar pro teu lado, mano.
Robson
Seria mais fácil se não houvesse a bandidagem, as drogas e tudo isso que faz a gente se acomodar, que entra na nossa mente e mora lá dentro, de forma que a gente não escolhe. É preciso ser forte, mano, não se iludir com as bandejas de ouro que nos servem. Agora você deve entender algo além do que eu, seu irmão e muita gente daqui. Não sei se vale deixar sua mãe chorando sozinha no sofá, com a TV ligada pra tentar distrair o pesamento e o coração, ela nunca consegue, eu sinto isso daqui.
É daqui pra frente, disse isso pro seu irmão, que tava sem consolo no dia que te levaram. Não sei quanto tempo isso vai durar, esse aperto, a vontade de te ver de volta por aqui, trocando uma idéia com a gente. Não sei como vai ser esse ano, mas pelos dias que se seguiram até então, vejo que não vai ser fácil. Digo por mim, que te vi crescer como todo mundo, quieto, até que a rua te dominou e te fez parte dela.
Fico pensando na juventude daqui. Posso parecer hipócrita, mas a verdade é que não temos opção além do bar e dos rolês de madrugada. Todo mundo acaba se envolvendo em algo errado, uns mais, outros menos, mas da mesma maneira somos jogados no mundão e do jeito que ele vier a gente abraça.
Guerreiros, temos de ser dia após dia. Saiba que te espero aqui, mano, e que todos os dias me lembro de você. Talvez não do jeito que estava agora, mas uns anos atrás, quando era apenas mais um moleque de skate, tentando pular a lombada de ollie, sem saber de nada do que acontecia lá fora, engraçado saber como a inocência nos fazia tão fortes. Mas uma injeção mínima de raiva nos faz parte do sistema, da estatística. A rua nos envenena, nos deixa fazer parte da família do inferno que querem que a gente seja.
É preciso ter confiança dos dias que vêm a seguir e esperar pelo bem. Voltei a rezar esta semana, talvez a dor de saber que você está numa cela, jogado com outro monte de gente, cada qual com sua história, me faz orar com mais fervor do que de costume. Te deixo, ao menos na idéia, aos cuidados do Deus em que acredito, não o deus dos Zé povinho que nos considera filhos bastardos, que aponta o dedo na nossa cara e diz que estamos sempre errados. Peço para aquele Deus que pra mim é a representação da criação e do bem comum e não deixaria nada de ruim acontecer contigo.
Mando vibrações positivas, esperança e fé, de quem realmente acredita que tudo vai melhorar pro teu lado, mano.
Robson
A cidade alta do paraíso (Paraisópolis)
por Robson Assis | tags Crítica | 4.2.09 2 Comentários
Todos vimos a favela de Paraisópolis numa tarde e noite de terror dias atrás. Moradores apavorados, carros incediados, destruídos, enfim. Em primeiro lugar, temos que deixar claro que não se acredita no que se vê na Globo (a verdade é dura, crianças). Em segundo lugar, a Tropa de Choque age simplesmente para determinar que todos são bandidos. As duas entidades citadas são irredutíveis quando se fala em favela ou gente pobre em manifestação: todos são vândalos e baderneiros. Hoje mais de 300 homens trabalham no local, para prevenir novos levantes. E o povo precisa caminhar nas ruas com viaturas da Força Tática os olhando como bandidos, com repórteres mais sensacionalistas e circunstanciais que se aproveitam de um tema para criar monstros e apresentar quem está certo e errado. Pra fechar, helicópteros sobrevoam a porra toda. Fantástico é ver a luta desse povo que só quer um lugar mais digno de se viver.
Sonetos Trágicos #003
por Robson Assis | tags Letras e Poesia | COMENTE!
A televisão encanta, enloquece
Se faz presente na mesa de jantar
Mesmo que seja assassinato no bar
Pode ser até o programa da Hebe
Eles mentem, mas estão maquiados
Injutiça, caos, pânico deflagrado
Assiste o Datena de trás do balcão
E pede outra pinga com limão fiado
Dominação da mente, alienação
Fofocas, banalidades, Big Brother
Eles não te dão opção
A polícia protege
Políticos querem melhorias
E a Luciana Gimenez não é uma vadia.
Se faz presente na mesa de jantar
Mesmo que seja assassinato no bar
Pode ser até o programa da Hebe
Eles mentem, mas estão maquiados
Injutiça, caos, pânico deflagrado
Assiste o Datena de trás do balcão
E pede outra pinga com limão fiado
Dominação da mente, alienação
Fofocas, banalidades, Big Brother
Eles não te dão opção
A polícia protege
Políticos querem melhorias
E a Luciana Gimenez não é uma vadia.
"Este será o dia que eu morrerei"
por Robson Assis | tags Pessoais | 3.2.09 COMENTE!
Bem, este é meu último dia de férias. Descobri por acaso durante o jornal da Globo que hoje (03/fev) faz 50 anos da morte de Buddy Holly, Ritchie Valens e J.P. "The Big Bopper" Richardson, durante uma viagem de avião. O acontecimento foi imortalizado na música de Don Mc Lean, American Pie, também gravada anos mais tarde pela Madonna. A letra trata do suposto dia em que a música morreu com a morte dos três grandes nomes. É talvez o mais belo lamento em canção:
"Há muito, muito tempo atrás
Eu ainda consigo me lembrar
Como aquela música me fazia sorrir
E sabia que se eu tivesse minha chance
Eu poderia fazer aquelas pessoas dançarem
E, talvez, elas seriam felizes por um momento
Mas fevereiro me fez tremer
Com cada jornal que eu entreguei
Más notícias na porta
Eu não podia dar mais nenhum passo
Eu não consigo lembrar se eu chorei
Quando eu li sobre a viúva dele
Mas algo me comoveu profundamente
O dia que a música morreu
Então, tchau tchau, Miss American Pie*
Dirigi meu Chevy até a barragem
Mas a barragem estava seca
E eles, bons garotos, estavam bebendo uísque e rye
Cantando "Este será o dia que eu morrerei"
"Este será o dia que eu morrerei"
Você escreveu o livro do amor?
E você tem fé em Deus?
Se a Bíblia te dizer que é assim,
Você acredita em Rock n' Roll?
A música pode salvar sua alma mortal?
E você pode me ensinar a dançar bem devagar?
Bem, eu sei que você está apaixonada por ele
Pois eu vi vocês dançando no ginásio
Vocês dois tiraram os sapatos
Cara, eu entendo o "rhythm and blues"
Eu era um adolescente solitário e desajeitado
Com um cravo rosa e uma caminhonete,
Mas eu sabia que estava sem sorte
No dia em que a música morreu
Eu comecei a cantar
tchau tchau, Miss American Pie*
Dirigi meu Chevy até a barragem
Mas a barragem estava seca
E eles, bons garotos, estavam bebendo uísque e rye
Cantando "Este será o dia que eu morrerei"
"Este será o dia que eu morrerei"
Agora por 10 anos nós estivemos sozinhos
E musgo cresce numa pedra rolante
Mas não era assim antes
Quando o bobo da corte cantou para o rei e a rainha
Com um casaco que ele pegou emprestado do James Dean
E uma voz que veio de nós
Oh, e enquanto o rei estava olhando para baixo
O bobo da corte roubou sua coroa de espinhos
A corte judicial foi adiada
Nenhum veredicto foi retornado
E enquanto Lenin lia um livro de Marx
O quarteto praticava no parque
E nós cantamos lamentações** no escuro
O dia que a música morreu
Nós estávamos cantando
tchau tchau, Miss American Pie*
Dirigi meu Chevy até a barragem
Mas a barragem estava seca
E eles, bons garotos, estavam bebendo uísque e rye
Cantando "Este será o dia que eu morrerei"
"Este será o dia que eu morrerei"
Helter Skelter num verão abafado
Os pássaros voaram com abrigo
Oito milhas de altura e caindo rápido
Pousou na grama
Os jogadores tentaram um passe para frente
Com o bobo da corte no campo
Agora o ar do primeiro tempo foi doce perfume
Enquanto os sargentos tocavam uma marchinha
Todos nós levantamos para dançar
Oh, mas nós nunca tivemos chance
Porque os jogadores tentaram tomar o campo
A banda da marchinha se recusou a desistir
Você se lembra o que foi revelado
No dia que a música morreu?
Nós começamos a cantar
tchau tchau, Miss American Pie*
Dirigi meu Chevy até a barragem
Mas a barragem estava seca
E eles, bons garotos, estavam bebendo uísque e rye
Cantando "Este será o dia que eu morrerei"
"Este será o dia que eu morrerei".
Oh, e lá estávamos nós num único lugar
Uma geração "Perdida no Espaço"
Sem tempo para recomeçar
Então, vamos, Jack, seja ágil, Jack, seja rápido
Jack Flash sentou num castiçal
Porque o fogo é o único amigo do diabo
Oh, e enquanto eu o via no palco
Minhas mão estavam cerradas em punhos de raiva
Nenhum anjo nascido no inferno
Poderia quebrar o feitiço do Satanás
E enquanto as chamas subiam pela noite
Para iluminar o ritual de sacrifício
Eu vi o Satanás rir com satisfação
No dia que a música morreu
Eu conheci uma garota que cantava blues
E eu pedi a ela umas boas notícias
Mas ela só deu um sorriso e foi embora
Eu fui à loja sagrada
Onde eu tinha escutado a música anos atrás
Mas o homem lá disse que a música não tocaria
E nas ruas as crianças gritavam
Os amantes choravam e os poetas sonhavam
Mas nenhuma palavra foi dita
Os sinos da igreja estavam todos quebrados
E os três homens que eu mais admirava
O Pai, o Filho e o Espírito Santo
Pegaram o último trem para o litoral
No dia em que a música morreu
E eles estavam cantando
tchau tchau, Miss American Pie*
Dirigi meu Chevy até a barragem
Mas a barragem estava seca
E eles, bons garotos, estavam bebendo uísque e rye
Cantando "Este será o dia que eu morrerei"
"Este será o dia que eu morrerei".
Assinar:
Postagens (Atom)