Tirei as férias neste mês de janeiro para me entreter em assuntos absolutamente triviais e outras besteiras em que metemos o bedelho. E foi sentado em um banco qualquer com uma caixa de cervejas qualquer que passei algumas horas de uma madrugada conversando sobre música com alguns amigos. Quando isso acontece casualmente, como desta vez, nunca chegamos a conclusão definitiva nenhuma, portanto considere a seguir o que lhe for pertinente.
Fizemos um retrospecto musical desde os anos 50, aquele rock and roll inconclusivo misturado com blues e country, passamos por Elvis Presley, Beatles e Bob Marley, chegamos ao punk, falamos até de Gipsy Kings, anos 90, Tupac, NWA, a coisa toda. Mas e depois dos anos 90, o que aconteceu com a música.
Bem, acabei de ver um filme que tenho no coração e por isso me lembrei de toda a conversa que tivemos. O longa se chama Quase Famosos, a história de um garoto convidado pela revista Rolling Stone para fazer uma matéria com o Still Water, banda fictícia da época dos grandes Led Zeppelin, Black Sabbath e Bob Dylan. Bem, é uma boa indicação, portanto, assistam. O fato é que neste filme, Lester Bangs, um dos principais jornalistas de música (e um dos mais antipáticos) que o mundo teve o prazer de conhecer diz no começo do filme algo do tipo "Eles chegaram, eles vão acabar com o rock and roll", se referindo aos grandes produtores à parafernália brutal que tira a alma da música e na mesma medida em que torna tudo algo rentável retira toda a essência que existe na arte.
Depois da metade da década de 90, não me lembro de algo que possa ter marcado o mundo da música e tenha tido tamanha repercussão. Desde então, tudo se reinventou, a noite pelos bares e baladas da cidade se tornaram uma cópia mais fajunta e mais colorida do que era a Disco Music dos anos 70, todos os lugares que você frequenta tocam a mesma grudenta música que está em cinco coletâneas diferentes em revistas nas bancas. Existem festivais de música independente cobrando uma bica de bandas para que toquem antes do NX Zero em determinado evento. Apenas uma festa de rap com grande porte, artistas internacionais e não apelativos, cobrando ingressos justos de um público que paga por certa dose de qualidade.
Houve sim, um rapper chamado Sabotage que fazia algo muito diferente, com rimas que brotavam de seu cérebro e o fizeram marcar história. De outro lado, houve um The Strokes que lançou um single e abriu porta para que um milhão de bandas ruins aparecessem e entupissem a MTV de violões caros e vozes horríveis, com letras fracas, mas que ainda se achavam o máximo por estarem de terninho conversando com a Marina Person sobre como seus pais os mantinham escutando Simon & Garfunkel para que tivessem uma boa formação musical.
Faz um tempo que não tenho a sensação maravilhosa que a boa música proporciona ouvindo rádio, por exemplo. Com exceção de rádios que tocam clássicos, mas isso é outra conversa. Alguém disse certa vez que boa música salva sua alma. E você não encontra mais boa música em meios comuns, como por exemplo o rádio e a TV. Você encontra o trabalho de empresários e produtores esforçados em manter o seu material vendável para um público de massa que engole qualquer Beyoncé, Fresno e Danças do Créu remixadas 264 vezes com a mesma intensidade. E nossa alma então vai definhando com o tempo.
Muita gente tocando música ruim, poucos espaços para música boa que ainda creio existir, apesar da falta de um astro, de um ícone, alguém em que se ouça um disco inteiro sem perder a onda que te transporta para algo além deste mundo. Acho que fechamos o assunto por aí. Digo, acho que a cerveja acabou e no caminho para buscar mais, acabamos mudando de assunto.
É, Bangs, eles não acabaram com o rock & roll, eles o privatizaram. O sonho de virar um rockstar suplantou tudo. A molecada que entrar na estrada, fazer turnê, tocar no Morumbi lotado, conhecer as gatas, ganhar dinheiro e gastar com apartamentos, carros e futilidades. Eles não querem mais saber de música. Quem der mais dinheiro leva a canção mais fácil de se fazer passar pela garganta da indústria do entretenimento. E nossa alma a cada dia fica mais longe da salvação.
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