Uns restos de mim

por Robson Assis | | 16.12.09

É dezembro. Estou com o carro parado na frente de uma lavanderia vendo ternos no cabide. Ternos entre a chuva espessa, milimetricamente despojados e contemporâneos. São pessoas que os usam. Pessoas que eu não conheço e, certamente, tem prioridades menos febris e preocupantes que as minhas. Sou um cidadão do mundo, endividado, encurralado pela máquina. Movido a sorrisos sem graça e horas de diversão fingida. Movido ao tédio que é meu nome, simples e puro, meu único significado. Eu torno a me jogar dentre os ternos, camisas brancas, gente falsa, gente falsa numa só falácia. Eu entendo, nada me leva daqui, nunca. Se eu soubesse que estaria deprimido e sozinho, olhando a vitrine de uma lavanderia hoje, talvez eu tivesse escrito melhor minha vida. Quando era moleque e ingênuo, me perguntava "até quando?" e me sentia numa pequena ilha, um pequeno príncipe beat, que carregava a solidão e a bebedeira na mochila. Hoje minha ilha cresceu, é imensamente maior e eu ainda estou sozinho, aprendendo a entender como foi que meus dezembros se tornaram tão chuvosos e tristes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário