Na entrada, uma breve revista com seguranças mais tranquilos do que o convencional braço cruzado, cara fechada e "abre-essa-carteira-aí-preu-ver". Uma moça bonita rasgou o ticket enquanto eu a admirava por dentro de seus olhos. Na descida pelo corredor escuro, lembrei de quantas vezes fui em casas de shows menos respeitosas com o público em locais mais elitizados e com funcionários que não se relacionavam como pessoas, com ações robotizadas e pouco humanas. Claro que lembrei disso tudo em duas frações de segundo.
No final da descida, avistei o palco. O Projeto Manada já destrinchava seu repertório dançante e empolgava os presentes que já lotavam metade do espaço destinado ao público. Apresentando o show do disco Urbanidades, lançado neste ano, o grupo abriu o segundo dia da festa, que no sábado contou com Doncesão & Dr Caligari, Sombra (ex-SNJ) e Subsolo. O PM fez um show bastante seguro e muito próximo do público. Segundo o MC Prizma afirma no myspace do grupo, a apresentação "foi o marco de um processo dificil que foi a concepção do disco".
Muito som rolando nas pick-ups após o primeiro show. Dei um tempo do lado de fora, na praça de alimentação. A fila enorme era recompensada pelo encontro com amigos e conhecidos, algumas palavras, o clima era de total coletividade. Algumas cervejas depois, entra em cena o Kamau. Já conhecia seu disco anterior e confesso não ter gostado muito do que ouvi. De qualquer forma, parei para prestar atenção e pude reconhecer o som do cara como algo muito original. Ele lançava também seu disco Non Ducor Duco, de agosto/2008. Batidas e levadas mais pesadas, com uma rima sublime e um tipo de métrica poética bastante particular. Fora isso o cara agitou muito a platéia que já tomava conta de todo o local.
DJ KL Jay tocou antes do nova-iorquino, muitos clássicos, muito rap nacional de qualidade, algumas emendas ótimas, um trabalho de indiscutível qualidade e que todos dançavam sem parar. Entre um som e outro, algumas homenagens ao DJ Primo, que faleceu este ano vítima de pneumonia. Todos aplaudiam e algo de emocionante acontecia dentro de cada um dos presentes, sempre que citavam o nome do DJ.
A noite já dava o ar da graça, quando sobe ao palco Talib Kweli, o norte-americano convidado especial. Já é praxe do festival chamar algum grupo de destaque internacional (em edições anteriores já passaram por lá Hyerogliphics, Jurassic Five e De La Soul) e desta vez, a escolha foi de uma exatidão milimétrica. O rapper que já fez parcerias com Madlib, Mos Def e Hi Tek, além de ser dito o queridinho de Jay-Z fez um set preciso que agitou a galera do início ao fim, sem delongas, sem corpo mole e com muita vibração positiva.
Ao terminar a noite acredito que todo mundo tenha voltado para casa com a sensação de um direito cumprido. Não podemos pagar para ver um Kanye West endeusado, mas podemos ver shows tão bons ou até melhores com a autenticidade de um evento que ano após ano vem ganhando em qualidade e acrescentando muito à cena de hip-hop independente nacional.
Foto por Pedro Pinhel (http://originalpinheirosstyle.blogspot.com/)
Um comentário:
Programão!
abraço!
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