Sabotage Eterno

por Robson Assis | | 24.1.11 1 Comentário

Sabotage (1973 — 2003) era o rapper, o elo. Modelo direto de competência e visão de mundo para sua quebrada, para seu próprio mundo. Ele tinha um dom natural em mãos, sua rima entorpecente, sua levada sinistra, seus trejeitos de composição. Era o rap, dava pra sentir de longe, não precisava de teste. A vivência fazia pulsar a rua em suas veias, sabia conhecer o mundo novo que fervilhava sob seus pés. Do Canão a Cannes, sabia onde pisar e como chegar.

Hoje, a música brasileira completa oito anos sem ele.



Assista o documentário completo no Youtube

Duas leituras #001

por Robson Assis | | 8.1.11 2 Comentários

Dois textos interessantes com opiniões sobre música. Para um sábado tranquilo. Os textos estão em inglês, mas não é nada impossível de ler. So, enjoy it.

::::A ÚNICA DROGA QUE EMINEM NÃO CONSEGUE ABANDONAR #
"Certas vezes, o sonho de fazer algo é mais divertido do que a conclusão real.

Se existe algo sobre Eminem que se manteve firme durante todos estes anos é o fato de que ele odeia a idéia de ser famoso. Ele transpareceu isso em 'Say Goodbye Hollywood', de 2002, e os efeitos negativos de seu estrelato internacional tem se mostrado repetidamente desde então [...] Tudo o que ele sempre quis era ter certeza de que Hailie [filha do rapper] tivesse uma boa vida. E ele fez isso, apesar de certa relutância em aceitar os prós e contras deste processo. [...] Com isso em mente, rimar pagou suas contas e sua mais recente façanha no trabalho lhe rendeu o álbum de maior venda no ano [...] o mais orgulhoso torcedor do Detroit Red Wing expressa liricamente o emaranhado de inferno e sucesso pessoal ao qual se enfiou."

leia na íntegra [em inglês]

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::::O QUE SIGNIFICA SER UM FÃ DE MÚSICA MAINSTREAM HOJE? #
"[...]É como se naquela época (anos 1960 e 70), cada pessoa tivesse algum grau de paixão pela música, mesmo se essa música estivesse no nível do mainstream. E eu acho que o motivo foi a qualidade global da música que eles estavam acostumados [...] a definição de um fã mainstream mudou radicalmente a partir da época de meus pais, e falando da minha época (anos 90) para agora, esta mudança é ainda mais drástica.

Hoje, o rap mainstream é um concurso de gritos. Quem faz a mais repetitiva e ignorante busca de atenção pode se destacar no ciberespaço [...] o hip-hop mainstream contemporâneo é preso na presente câmara de eco do sensacionalismo e da falta de originalidade. A maior parte dessa música é uma sombra do que ele mesmo foi em 1999 quando a geração TRL tomou conta [...] especialmente se você considerar que uma grande quantidade de hip hop hoje é realmente 'auto-destrutiva'. Sem dúvida, estes fatores têm degradado a nossa música e cultura.

Como entusiastas da música e de artistas, temos de estar conscientes do que aconteceu com o mainstream e como isso aconteceu. Além disso, temos de estar conscientes de quem é mais responsável por criar uma disparidade tão grande entre as principais correntes de ontem e de hoje. Se fizermos isso, nós podemos afetar o tipo de mudança no mainstream que, pelo menos, garante aos jovens a melhor chance de uma escolha variada de música de alta qualidade."

leia na íntegra [em inglês]

Os contadores de história do rap

por Robson Assis | | 5.1.11 1 Comentário

O rap, declaradamente, é um estilo musical que preza pela mensagem que deve ser passada com poucos desvios, que deve ser entendida para reflexão, para melhoria de vida, pela esperança e outras consequências imediatas ou futuras. Só por esse quesito já se torna um estilo diferente dos outros quanto às formas de composição, uma vez que o desafio do compositor é tocar seu público com uma mensagem de valor.

É preciso acima de tudo libertar, mostrar o caminho para desvencilhar o público do comum, do mastigado, é preciso incitar a reflexão. Uma das grandes premissas para o rap é conseguir público através desse intuito. Tirar o moleque da rua, tirar o bandido da criminalidade, afastar os estereótipos criados para que um pobre não tenha direito. Está mais em oferecer um tipo único e inexplicável de auto estima ao povo da periferia.

Acima de tudo isso, de toda rima panfletária, manifesto ou debate, existe o storytelling, o ato de contar histórias com começo, meio, fim e uma 'moral da história' bem definida. Um poeta que consegue unir todos esses parâmetros para uma música é que realmente cria os clássicos.

Em 1999, aliado G do grupo Face da Morte cantou em 'A Vingança' a história de uma empregada doméstica que havia sido estuprada pelo filho do seu patrão, tendo em seguida seu próprio filho, que cresceu sem saber quem era o pai e teve fácil acesso até a criminalidade. A história gira até o ápice em que ele encontra seu pai na empresa em que vai assaltar a empresa de seu próprio —e desconhecido— pai: 'ahn? nem quero mais seu dinheiro, seu sangue é meu pagamento, vou cumprir meu juramento e vingar minha mãe'.

Roberto Carlos Ramos, do filme O Contador de Histórias
A composição de músicas com histórias não é invenção do rap, mas isso já era de se imaginar. Em 'The Day the Music Died', de 1971, Don Mc Lean canta sobre o trágico acidente aéreo que levou de uma vez Buddy Holly, Ritchie Valens e J. P. "The Big Bopper" Richardson. Outro exemplo clássico a ser citado é a história do boxeador Rubin "Hurricane" Carter, preso injustamente por assassinato. Nas palavras de Dylan, da clássica 'Hurricane': 'a história do Furacão, o homem que as autoridades acabaram culpando por algo que ele nunca fez. Colocaram-no numa cela, mas ele poderia ter sido o campeão mundial'. Bob Dylan e a história da country music americana, sem contar os inúmeros exemplos brasileiros de MPB e música sertaneja, até o Forró de Luiz Gonzaga estão repletos de canções que contam histórias belas ou tristes.

As histórias com base na realidade são sempre mais tocantes e incisivas, pois tratam não apenas de idéias e especulações ideológicas, mas de fatos sociais, de causos rotineiros. O rapper Ogi, integrante do grupo Contra Fluxo, que deve lançar seu primeiro disco solo 'Crônicas da Cidade Cinza', em março deste ano, volta toda a temática de suas letras em contar histórias. Algumas músicas já demonstram todo seu poder de englobar em suas músicas verdadeiros contos e criar personagens distintos e cheios de vida em cada uma de suas músicas.

Mais do que uma categoria, contar histórias traz a vida mais próxima à música e as pessoas mais envolvidas como parte do processo de criação. Uma vez que todos somos personagens nesta cadeia de eventos que chamamos de vida, a música serve como um grande espelho onde se encontram todas as histórias que ajudam a montar o quebra cabeça e desvendar a sociadade em que vivemos.

Os últimos livros de 2010 (Os livros de dezembro)

por Robson Assis | | 3.1.11 COMENTE!

O Livro Negro dos Estados Unidos, Peter Scowen - Na estante particular há mais de 7 anos, Scowen me trouxe de volta muito do que aprendi lendo Michael Moore aos 19 anos. Três capítulos essenciais são os que falam sobre os governos da América do Sul, sobre comida enlatada e fast-food e o magnífico 'Cultura Vazia' sobre cultura pop norte-americana, que trabalha com dilemas como a diferença dos conceitos 'artista' e 'celebridade'. Os demais capítulos, embora maiores e mais complicados, são também excelentes e ligados a política externa, governos influenciáveis e guerras. Irmão de uma quase vítima dos ataques de 11 de setembro, o autor tenta entender como o resto do mundo deve enxergar seu país, apoiado em documentos reais, pesquisas e citações de outros autores, montando um panorama aterrorizante dos EUA. Muitos assuntos são passíveis de conspiração, claro, portanto o livro deve ser lido com cuidado extra. Um dos livros básicos para começar a perceber e analisar estranhos fenômenos de globalização que surgem do 'american dream'.

Bartleby, o escriturário: Uma Historia de Wall Street, Herman Melville - Um conto curto, livro pocket, para ser lido em uma fila grande, ou na volta da viagem de reveillón. Confesso que achei perturbador demais, vindo do autor de Moby Dick. Melville conta a história desse sujeito excêntrico e quase patológico, que tinha uma maneira particular de negar suas obrigações diárias como funcionário de um escritório, dizendo como resposta a qualquer função que lhe designassem apenas "prefiro não o fazer". É algo além da procrastinação pura e simples. É renuncia, desprendimento moral, afasia. A propósito, o personagem principal deu origem a Síndrome de Bartleby, nome dado pelo escritor Enrique Vila-Matas ao mal que assola escritores que ao atingirem o sucesso literário deixam de produzir novas obras.

Esboço do Juízo Final, Vittorio Alfieri - Literatura italiana de qualidade, crítica e sarcástica na medida certa, bem ao contrário do que li nas resenhas que encontrei sobre o livro que tratam o autor como 'o perfeito tipo do individualista revoltado na literatura européia', Alfieri mantém o humor e a crítica da condição humana em nível adequado à sua história, em tom irônico e desconcertante, tratando das misérias sociais ou da bondade com o mesmo peso. O autor joga também com a imagem católica de um tribunal de contas a prestar diante de Deus, que confunde os homens até o ponto em que acreditam que a defesa sobre seus próprios erros e a aceitação como pecador anula imediatamente a culpa e a punição. Um livro engraçado, com um humor ao mesmo tempo agressivo e bastante refinado.

O Assassinato e outras histórias, Antón Tchekhóv - Um dos maiores contistas de todos os tempos, responsável por grandes mudanças no estilo conto. Li tudo isso na Vida e Obra, ao final do volume - esta coleção da Abril pensou em tudo - embora o pensamento "Não sei qual é a desse Tchekhóv", tenha perdurado na minha cabeça durante todo o desenrolar do livro. Entendi seus contos sistemáticos, suas histórias nem tanto confusas, seus personagens tão profundos que dariam um livro por si só, mas não entendi onde ele quer chegar com tantas reticências filosóficas no final dos contos. Compreendi, por outro lado, que suas histórias acontecem e devem ser apreciadas como um todo e não apenas como uma linha cronológica de acontecimentos; e que o final é apenas onde a história precisa parar de acontecer e ao leitor é permitido começar a refletir. E foi assim que, no final, entendi qual era a dele.

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Em 2010 pude ler todos estes livros, alcançando essa marca inacreditável de apenas duas prateleiras cheias no quarto. Um dia, quando parar de comprar livros, talvez consiga zerar isso e, quem sabe, fazer aquele cartão da biblioteca ou comprar um iPad, essas conquistas menores. Vamos à lista:

  • Você já pensou em escrever um livro?, Sônia Belloto
  • Subúrbio, Fernando Bonassi
  • Voláteis, Paulo Scott
  • Antologia - Literatura no Brasil, vários autores
  • Memórias do Subsolo, Dostoiévski
  • Alta Fidelidade, Nick Hornby
  • 1984, George Orwell
  • O Apanhador no Campo de Centeio, J.D Salinger
  • Mulheres da Máfia, Clare Longrigg
  • Coleção Arte de Bolso (5 livros)
  • Contos, Virgínia de Medeiros
  • A Mensageira das Violetas, Florbela Espanca
  • Eva Trout, Elizabeth Bowen
  • A Tragédia de Eloá, Márcio Campos
  • Amor Lúbrico, Vários autores
  • Leite Derramado, Chico Buarque
  • Olho de Gato, Margareth Atwood
  • Sandman ed. definitiva vol. 1, Neil Gaiman
  • Cartas a um jornalista, Voltaire
  • Cândido, Voltaire
  • A Origem da Desigualdade do Homem, Rousseau
  • Persépolis, Marjane Satrapi
  • Senhor dos Anéis vol. 1, A Sociedade do Anel, J.R.R. Tolkien
  • Caco Barcellos, Rota 66
  • Charles Baudelaire, Escritos sobre arte
  • Os sofrimentos do jovem Werther, Goethe
  • Mensagem, Fernando Pessoa
  • O Abusado - O dono do morro Dona Marta, Caco Barcellos
  • Ratos e Homens, Jonh Steinbeck
  • Wunder Blogs, Vários autores
  • Gothica, Gustave Flaubert
  • Um grande garoto, Nick Hornby
  • Elite da Tropa, Luis Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Batista
  • O Gato preto e outras histórias, Edgar Allan Poe
  • Antes tarde do que sempre, Bertoldo Gontijo
  • Cartas do yage, William Burroughs e Allen Ginsberg
  • O senhor dos anéis, As duas torres, J.R.R Tolkien
  • O mundo fora dos eixos, crônicas, resenhas e ficções, Bernardo Carvalho
  • O Velho e o Mar, Ernest Hemingway
  • O Livro Negro dos Estados Unidos, Peter Scowen
  • Bartleby, o escriturário: Uma Historia de Wall Street, Herman Melville
  • Esboço do Juízo Final, Vittorio Alfieri
  • O Assassinato e outros contos, Antón Tchekhóv