Os livros de janeiro

por Robson Assis | | 29.1.10 1 Comentário

No primeiro mês do ano, consegui ler alguns volumes esquecidos da minha biblioteca pessoal, segue abaixo as recomendações:

Você já pensou em escrever um livro?, Sônia Belloto - Um livro bastante prático, mais da metade funciona como uma apostila para escritores e, sem mentir, neste trecho é legal, bem escrito e interessante, possui até um capítulo tratando da jornada do Herói de Joseph Campbell, ideal para quem vai escrever histórias que possuem uma certa programação. A outra parte trata da "profissão" de escritor: é um trecho bem fantasioso, com requintes de auto-ajuda para escritores. Deixei este exemplar guardado por quase 8 anos, pois conheci a autora quando trabalhei na livraria Siciliano, onde vi suas palestras que tendiam para um lado mais emocional e prático da arte de escrever. A Siciliano caiu por terra, tal qual a previsão do livro que dizia que em 2010 teríamos muitas livrarias vendendo livros impressos no local, sob demanda. Acabei achando o final problemático e institucional demais, pois trata da Fábrica de Textos, cursos de escrita criativa ministrados pela própria autora.

Subúrbio, Fernando Bonassi - A história toda é como o prenúncio de uma tragédia. Você sabe que aquele velho, com aquela historinha pra cima de uma garotinha, não pode terminar bem. Mas o livro te leva a outros mundos, vira e revira completamente a visão da história com o passar do texto. É como viajar na mente de um senhor angustiado pelo que deixou pra trás em sua vida. Além disso, desenha muito bem os lugares, você consegue se colocar dentro daquele universo, se inserir no bairrismo da história. Faz isso tão bem que tenho até agora a imagem certa do bar que ele frequentava, por exemplo. Mas assusta, é um livro que trata de pedofilia, através da ótica do pedófilo. Doentio, meticuloso, às vezes me perguntei se não era desnecessário, mas ao final, descobri uma grande obra.

Voláteis, Paulo Scott - Coleção Fora dos Eixos. Para quem já leu Bukowski ou Jack Kerouac e adora vivenciar histórias em processo de deterioração alucinógena, esse é o livro. Ou um deles, neste caso. Um Noir às brasileiras, livro debut deste excelente escritor gaúcho. Personagens controversos, um retrato fiel da atmosfera hipster e degradante que circunda nossa geração. Ladrões simpáticos, amores esquecidos e doentios, vivendo às margens de uma cidade que parece existir só para os outros. Lara é a personificação disso. Sua aversão ao sol faz com que se mantenha alheia a tudo e cada vez mais desesperançosa. Paulo Scott tem a excelente característica de descrever em poucas frases a história inteira de um personagem, seus medos e preocupações. Se tivesse mais mortes, poderia ter sido um roteiro escrito por Tarantino. De qualquer forma, foi o melhor livro do mês, vale a leitura.

Antologia - Literatura no Brasil, vários autores - Gosto de ler antologias e coletâneas de autores diversos. Esta possui muitos textos bons, mas poucas poesias que tocam, do meu ponto de vista. De um outro lado, tem textos excelentes, como o do Sacolinha, do qual já havia lido 85 letras e um disparo, presente de minha amiga Mirian Pulga, anos atrás. De outro, só poemas medianos, dos mesmos escritores. Essa antologia é bem curta, um livro para ler sem marca página, de uma vez só, embalado pela alma e pelo sentimento de grandes e anônimos escritores.



Tentei começar a ler a saga de O Senhor dos Anéis (incluindo Silmarillion e O Hobbit), mas meu estado mental do começo desse ano ainda não me permitiu. Atualmente, estou lendo Memórias do Subsolo, de Dostoiévski, um livro denso, mas bem curto e Alta Fidelidade, de Nick Hornby, autor ao qual provavelmente vou dedicar o mês de fevereiro.

Aí, Jay-Z

por Robson Assis | | COMENTE!

Vem pro Brasil com sua esposa e vá sim conhecer o Afroreggae, pois o grupo tem uma história de luta incomparável, são batalhadores. Mas fica aí minha dica, venha conhecer o rap brasileiro, vem saber de cada garoto que corre só com uma caneta e um papel na mão, que grava em condições precárias e lança sem ter gravadora. Alguns deles, no boca-a-boca conseguem atá reverter a ordem.

Quando descer daquele avião, vista o terno para os shows da Beyoncé, tire fotos, curta a viagem, afinal, é só uma viagem. Mas quando acordar de manhã, coloque uma bermuda e uma camisa, vá pro Morro ver como os pobres daqui sentem o que você diz em suas músicas, como naquela canção do Blueprint 3. Tente entender como os cidadãos compartilham apenas a visão de uma cidade maravilhosa e mais nada. A praia é para todos, os flats à beira-mar, para poucos.

E, se vier a São Paulo, conheça a Fundação Cafu, Lembra daquela Copa do Mundo de futebol em que um jogador brasileiro ergueu a taça com uma camiseta escrito 100% Jardim Irene? Você não sabe como foi pra quem mora, ou pra quem conhece o lugar ver aquilo na TV.

Caro Hova, aproveite a estadia, mas de coração, espero que tenha tempo o suficiente de conhecer o Brasil do Brooklyn e o Brasil da 5ª avenida.

Hey, Jay-Z
Come to Brazil with your wife & yeah go to know the Afroreggae band, the guys have a unique history of struggle, are struggling. But here is my tip, come & know the brazilian rap, comes to know every kid who runs with only a pen and paper in hand, writes in poor condition & without label releases. Some of them, in word-of-mouth can bind to reverse the order.

Getting off the plane, put on suit for Beyonce's concerts, take pictures, enjoy the journey, after all, is only one really good trip. But when you wake up in the morning, put a shorts and a shirt, go to the Favelas see how poor people here really feel what you say in your songs, like that song from Blueprint 3. Try to understand how people share only the vision of a beautiful city and nothing else. The beach is for all, but the flats by the sea, to few.

And if you come to Sao Paulo, meet the Foundation Cafu, Remember the World Cup of football in which a Brazilian lifted the trophy with a T-shirt 100% written Jardim Irene? You do not know how it was for those who live, or for those who know the place to see it on TV. It's another place that runs against the tide and their daily struggle.

Dear Hova, enjoy the stay, but at heart, I hope you have enough time to visit the 5th Avenue's Brazil & the Brooklyn's Brazil.

Sorry about the bad english.

Cultura Freestyle e o Rap de Narciso

por Robson Assis | | 27.1.10 3 Comentários

Batalhas entre rappers são eventos bastante prestigiados na música rap em geral. A chamada "rinha" de MCs cria com perfeição batalhas magistrais entre artistas que, com uma mistura de carisma e agressividade nas letras se tornam verdadeiras celebridades no meio.

Acontece assim, o primeiro rapper manda sua rima que tem por objetivo essencial rebaixar o adversário. Ao final, é a vez do outro responder no tom de sarcasmo que supere o anterior. A coisa é bem legal de assistir e eu recomendo. Como nos duelos convencionais, o rapper que se mostrar superior, vence.

Por um outro lado, esses eventos levam a música em si a um rumo diferente quando o rapper sai da rinha de Mcs e escreve uma letra, produz um disco próprio. Em geral, rappers que saem de batalhas de mcs são egocêntricos, não por erro próprio, mas pela escola da qual eles saíram, uma vez que só vence quem tiver o ego mais inflado pela ovação da platéia e o trocadilho mais afiado para insultar o adversário. Além disso, estes artistas dificilmente são parte de um grupo musical, ficam apenas com seus nomes estampados na capa dos CDs, o que lhes confere autenticidade, respeito e, em grande parte das vezes, a falta de uma boa parceria. Falta olhar outros reflexos, como não fez Narciso.

O mito de Narciso conta a história de um cara que se achava tão singular que certa vez foi olhar seu reflexo na água e, de tanto querer chegar perto, caiu dentro do lago, morrendo afogado. É assim o rapper que, ao escrever uma letra para seu disco, esquece que não existe mais nenhum adversário a sua volta, mas sim um público afim de ouvir suas idéias. Ele não precisa mais falar de si próprio, nem provar nada a ninguém.

O modelo das rinhas não enaltece o rapper que se dá melhor com as palavras, mas sim o que mais ofende o outro sem perder o caráter. Fica claro que ser bom no freestyle não é o que faz do artista um bom rapper. Se fosse assim, pra fazer uma analogia crassa, os "zé povinho" da vida real (gente que só vê o lado ruim das pessoas e sai por aí difamando Deus e o mundo) seriam grandes e incontestáveis pensadores.

Portanto, minha opinião final é que o freestyle convencional é algo excelente de assistir, exalta a criatividade e o bate-pronto dos rappers. Entretanto, do meu ponto de vista, deveria ser uma escola a mais no rap, e não apenas um celeiro de personagens genéricos. Pois o que se vê é que isso acaba criando músicas narcisistas que não enxergam muito além do próprio umbigo a realidade que tanto prega o rap. A rinha de MCs é um lugar único para exercitar a mente, sem dúvida, mas isso não vale de nada se, ao sair dali, o Narciso que existe em cada artista só reclama dos outros e exalta a si próprio.

Se a batalha de MCs é realmente fantástica como eu também acredito, seria mais vantajoso para a cultura e para o próprio artista o lançamento de discos com duelos ao vivo - e porque não - na própria Rinha de MCs. Fica a dica!

Finalmente, AVATAR

por Robson Assis | | 20.1.10 COMENTE!

Dessa vez, não vou contar a minha saga, mas sim a de Jake Sully.

Avatar conta a saga deste ex-fuzileiro naval cadeirante, incapacitado de exercer serviços militares levado a um outro planeta explorado por uma corporação da Terra que busca Unobitanium, um mineral milionário para nosso planeta. Jake vai comandar um avatar criado a partir de biotecnologia. Ele precisa aprender os costumes do povo Na´Vi, os nativos, para ajudar a criar um acordo entre os dois povos e para que os interesses da companhia não sejam perdidos. Caso falhe a diplomacia - e isso fica claro desde o início - o "povo do céu" vai lidar da forma como sabe melhor: a guerra.


O roteiro é realmente fraco, sem novidades. Dizem por aí que se parece muito com o de Pocahontas. Como nunca vi Pocahontas, fica apenas a referência. A narrativa é intuitiva, rápida, como nos melhores (ou piores) blockbusters. É, no fundo, uma história bem contada, mas de forma simples, como histórias de amor épicas e dramas geniais que sempre existiram.

A contar apenas com o roteiro, James Cameron teria tudo para naufragar junto de seu mundinho, mas não. Ele conseguiu entrelaçar outros dois fatores extremamente importantes em uma ficção científica deste porte: estética e originalidade.

É primordial ver este filme em uma sala 3D, como em algumas do Cinemark ou no unânime Imax. Todas as cenas, eu disse TODAS, flertam com profundidade incomparável, mesmo as mais simples. Isso coloca o espectador dentro do filme, espantando as moscas luminosas que aparecem volta e meia. E, com o desenrolar da trama dá pra perceber que era realmente essa a idéia. Colocar o espectador em primeiro plano vivendo em Pandora, sentindo, mesmo que por apenas 3 horas, as sensações de um mundo exterior quase real.

Cameron criou um mundo extraterrestre singular, não apenas com fauna e flora próprios, mas com sutilezas e costumes tão intrincados que parece que aquele lugar realmente existe. Cada animal, cada olhar ou palavra transpiram. É possível estar em posições diferentes e sentir a profunda ligação dos nativos com seu planeta, como é possível ver os olhos transbordando sangue do general que encoraja o holocausto Na´Vi. Você é jogado dentro de Pandora sem perceber.

O outro ponto que citei foi a originalidade. Segundo esta matéria do New York Times publicada também pelo Terra, o filme criou em torno de si milhares de correntes a favor ou contra, das mais diversas formas. Um ponto chave da filmografia de Cameron é fazer filmes maiores que seu gênero. É possível ver o filme como uma frívola guerra de mundos da mesma forma que é possível encontrar analícamente uma crítica social em cada trecho.

Cameron disse em entrevista que AVATAR é uma parábola ecológica e sim, faz todo o sentido. Fala sobre a condição humana de avassalar os recursos naturais de um planeta por pura ambição. Com exceção dos heróis da trama, tudo o que envolve o terráqueo ou o "povo do céu" neste filme é cercado por doses cavalares de ódio e ganância. De certa forma, isso garante o desconforto em ser humano, que se agrava ainda mais quando a natureza é colocada como ponto focal do filme. Quando se percebe a ligação que aquele povo têm com a natureza, a ponto de se sentir mal em matar outro animal ou chorar ao ver a destruição de uma vegetação é que vemos o quanto damos a mínima para nossa origem. Como neste trecho abaixo, a humanidade se considera completa demais e o pensamento de se voltar à natureza é como regredir.
MO'AT: Por que você veio até nós?
JAKE: Eu vim para aprender.
MO'AT: Nós temos tentado ensinar outras "pessoas do céu". É difícil encher um copo que já está cheio.
O que mais me surpreendeu neste filme foi o fato de uma obra que começou a ser produzida no final dos anos 90 ter ainda tanta força ideológica 10 anos depois. Ainda somos primários, ainda somos os mesmos. Outro ponto foi a ficção científica baseada em alegorias. É possível contar histórias sobre problemas humanos reais sem falar diretamente de política, simplesmente com um pano de fundo em que as sensações e emoções por um mundo e um modo de vida mais simples superam a exatidão e a morosidade de nossos dias.

Mais Haiti

por Robson Assis | | COMENTE!

Após Bono Vox e Jay-z se juntarem para gravar uma canção sobre o país, o Slim Rimografia acaba de lançar em seu myspace, um novo som sobre a tragédia no Haiti, uma letra emocionante e bastante sincera. Ouça no myspace. Particularmente, acho estranho isso da criação de arte sobre uma tragédia como esta e acrescento, como bem disse Sérgio Vaz neste post: "os poetas são fracos, e o que é pior, tanta fome no mundo e no Brasil e ninguém come poesia. Não sirvo pra nada".

SLIM RIMOGRAFIA - HAITI, TERREMOTO SOCIAL

A Terra treme a milhares de corpos debaixo de ruínas de concreto
A pele cor de luto, ruas tornam-se cemitérios a céu aberto
Fácil crer em Deus, difícil saber se ele realmente esta por perto
Tanta destruição futuro algo tão incerto
Irmão que perde irmão
Mãe que perde filha
Filha que perde mãe, criança que cresce sem família
Pai que perde parente, gente que perde a esperança
Miséria que poda sonhos e impede o sorriso da criança
Mãos que pedem paz, ambição que impede e traz
Sofrimento de quem perde tudo pra quem quer tudo e muito mais
Tempestade vem e devasta, terremoto vem e destrói
Saber que bem antes disso o povo já sofria é o que mais me dói
Quantos morrerão de fome, nos escombros da miséria
Sem forças pra pedir socorro sem o mundo como platéia
80% vivendo abaixo da linha da pobreza
Com menos que as migalhas que ficam sobre sua mesa
Vi tristeza nos olhos, de homens criança e mulher
Fraqueza de fome dobra mais joelhos do que a fé
De pé, quem sobreviveu contabiliza o que perdeu
Maior catástrofe é saber que o mundo todo te esqueceu
Haiti, hoje vocês viram notícia
Alguns oferecem ajuda, eu clamo por justiça
Terra sem dono, entregue ao abandono
Miséria reina em porto Príncipe, há um corpo sobre o trono.
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HAITI, SEIS DIAS DEPOIS
E o The Big Picture, do Boston Globe, lançou uma sessão de fotos sobre o país seis dias depois da catástrofe. Impressionante como cada imagem parece respirar, é possível captar cada sentimento. Clique na imagem abaixo para ver as fotos:


Graffiti, Aids - Um comercial

por Robson Assis | | 19.1.10 COMENTE!

Uma das melhores campanhas de prevenção de DST que já vi é esta da TBWA, de Paris, divulgada agora em janeiro de 2010. Com a ajuda de graffiti, stop motion ou qualquer outra coisa parecida, é uma animação que merece destaque:



via per_raps

Esquecemos os mudos telepáticos

por Robson Assis | | 16.1.10 COMENTE!

Informações sobre contas de depósito para a ajuda ao Haiti:

Embaixada do Haiti no Brasil Banco: Banco do BrasilAgência: 1606-3Conta Corrente: 91000-7CNPJ: 04170237/0001-71

Comitê Internacional da Cruz VermelhaBanco: HSBCAgência: 1276Conta Corrente: 14526-84CNPJ: 04359688/0001-51

ONG Viva RioBanco: Banco do BrasilAgência: 1769-8Conta Corrente: 5113-6CNPJ: 00343941/0001-28

Care Internacional BrasilBanco: ABN Amro Real Agência: 0373 Conta corrente: 5756365-0CNPJ: 04180646/0001-59

Não vou ajudar, nem me cabe. O dinheiro que me falta infelizmente não pode ajudar ninguém. Fica a intenção da ajuda por parte de quem realmente pode.

Em tragédias como esta dos últimos dias no Haiti fica perceptível o rumo que as coisas tomaram no mundo, fica claro o senso de humanidade está perdido. É quando nego se esquece que pode ajudar alguém que precisa e prefere fazer publicidade em cima. Grandes exemplos são os vídeos do reverendo Pat Robertson e do consul do Haiti no Brasil. Os dois são igualmente surreais primeiro pelo comentário inacreditável, depois por ter desviado completamente o foco da notícia.

Divagações da madrugada de sexta

por Robson Assis | | COMENTE!

Queria que o sol ficasse um tempo a mais no céu. Ou que a Terra girasse mais devagar. Poder sair e olhar o dia, respirar, caminhar, ver gente estranha se divertir com bobagens. Eu mesmo queria uma bobagem que me fizesse tão bem. Sorrir, deixar de lado esse corporativismo maluco da alegria forçada, minhas teorias sobre a sociedade. Queria viver a juventude sem o peso de crescer, ver meus pais me dando bronca, emendar piadas até não conseguir continuar. E ser um velho ranzinza, talvez, por viver tão intenso e desregrado, quando a vida assim me permitir. E, se o vento passar, que não seja breve, que me envolva em sua invisível essência grandiosa, me purifique desta falta de esperança, deste coração partido e sem metro quadrado. Por um espaço de tempo que fosse meu e chega, sem intervenções além da natureza pura e complexa, do chão de terra batida e da estrada sem final premeditado. Queria um mundo mais meu e sempre nosso, queria.

A Coca-Cola e a Felicidade

por Robson Assis | | 13.1.10 COMENTE!

Não preciso dizer nada sobre a Coca-Cola, certo? Um refrigerante pesado de fórmula única, uma indústria milionária, até em Marte deve ter um ET com um isopor portátil vendendo essa bebida. Apesar de tudo isso, é uma empresa bastante dedicada à sua publicidade e estratégias de marketing.

Eles lançaram um viral excelente, gravado numa faculdade. E eu perdi toda a minha arrogância libertário/militante ao ver o vídeo e sorrir. Aconteceu também naquele comercial que tocava What a Wonderful World na voz do Joey Ramone. E desta vez, aconteceu de novo.

Talvez seja esses mesmo o alvo da ação publicitária: esquecer que lados temíveis a empresa possui e passar a relacionar o produto a momentos de felicidade (e estou com a sensação de ter resumido o curso de marketing/publicidade e propaganda nesta frase).

Minha conclusão é que precisamos rir mais da vida que levamos.



*dica da Taty Izquierdo

Capão Redondo, afirmação cultural

por Robson Assis | | 8.1.10 1 Comentário


Um dia desses, no Formspring (um site de perguntas e respostas que ganhou peso só no Twitter), o ovidio001 me perguntou "o que é aquele adesivo que todos os manos do Capão usam no carro?". Respondi de maneira simples, dizendo que é uma grife de roupas local, do escritor Ferréz, que inclusive já tinha até uma loja virtual.

Não demorou muito para eu pensar mais sobre o assunto.

Além de ser uma marca prestigiada na região em que moro, a 1 da sul é o ponto focal de uma mudança bastante visível nos últimos anos: O orgulho puro por morar em uma região que nos anos 80/90 era tão violenta e desacreditada, mas que começou os anos 2000 tão cheia de vida, de arte e transpirando mudanças.

Antigamente, as pessoas tinham vergonha de dizer que moravam no Capão Redondo. Era depreciativo dizer isso em entrevistas de emprego, por exemplo. Conheço gente que preferia esconder e dizer bairros vizinhos na tentativa de amenizar o pensamento alheio.

Bem, isso acabou. Algo que esqueci de dizer na resposta ao amigo Ovidio é que não são só os manos que usam o adesivo em seus carros tunados e seus bonés afudados na cabeça. É uma grande parte do bairro que viu nos dizeres "Capão Redondo - SP" embaixo do logotipo, uma maneira de exibir sua essência, de se afirmar como morador de um bairro que não perdeu completamente a guerra contra a violência (por mais contraditório que isso possa soar).

A loja da 1 da Sul ultrapassou os limites locais e foi parar na Galeria Borbagato, em Santo Amaro. Hoje existe uma outra loja, a Fundão, também local, com a mesma prerrogativa da marca do Ferréz. A diferença é que ela é mais específica para quem mora na famosa Vila citada em discos do Racionais.

A evolução cultural do Capão Redondo é assunto para uma tese de mestrado. Eu não conseguiria citar em tão poucas palavras a quantidade de festas, bibliotecas, debates literários, ações sociais e outra infinidade de eventos culturais que acontecem hoje no local, inspiradas nos moldes da 1 da Sul que, vale ressaltar, é uma grife de roupas ligada diretamente a literatura.

O que posso dizer - com o bairrismo que me é de direito - é que o Capão Redondo foi pioneiro numa fórmula utilizada hoje por diversos outros bairros: conseguiu reverter o convívio com a violência e falta de esperança nos mais diversos campos da produção de arte.

"...senti saudades resolvi te escrever"

por Robson Assis | | 1 Comentário


Hoje eu parei quando vi essa foto. Estava num álbum antigo, parecia guardada a sete chaves. É uma foto com essa amiga, uma amiga que se foi. Éramos próximos. O bastante para eu me ver feliz apenas quando ela chegava, o bastante para passar horas no telefone rindo, qualquer que fosse o assunto.

Você tem, sem dúvida, pessoas chaves em sua vida. Aquelas que não vão desaparecer com o simples esquecimento, aquelas que transcendem o tempo e os percalços da memória. Pessoas como estas é que fazem de nossa vida uma experiência completa.

Tenho um amigo que ficou falando dela o tempo todo, passava meses e ele não deixava de citá-la. Demora pra perceber que, quando as pessoas morrem, elas não nos deixam realmente sozinhos. Elas deixam lembranças, histórias, medo e uma saudade singular. É como se convencionou dizer: elas "moram em nossos corações".

Ontem, ao final de uma música que parecia não ter fim, ela correu na minha direção e pulou nos meus braços. Ficamos assim por alguns segundos que marcariam todos os meus anos seguintes. Parece que foi ontem quando ela sorriu e disse que me amava, parece que foi ontem que eu prometi que nada ia mudar, nunca.

Tudo aconteceu, e nada desse sentimento mudou. Hoje, sou só saudades.

A Sucursal do Inferno, por João Wainer

por Robson Assis | | 5.1.10 COMENTE!

Em seu novo blog, o fotógrafo João Wainer postou o ensaio com fotos do Carandiru, oito anos após a demolição dos pavilhões e a extinção do fantasma do massacre que rodeava o local, na zona norte de São Paulo. Entre as imagens estão algumas personalidades: Geraldo Alckmin, na época governador do estado; Rita Cadillac, que fez diversos shows no presídio; e o grupo 509-E, que em 2002 lançava o disco MMII DC (2002 Depois de Cristo).



(via joaowainer)

Big & Pac

por Robson Assis | | COMENTE!


Neste último final de semana assisti o filme NOTORIOUS, uma bela cinebiografia do rapper também conhecido como Biggie Smalls, mas que aborda pouco os atritos no mundo do rap norte-americano da última década do século XX, como li certa vez numa crítica sobre o filme.

A rivalidade entre as costas leste e oeste começou em meados dos anos 90, entre artistas e fãs das cenas locais de hip-hop. Os pontos focais da briga eram de um lado (leste) o rapper Tupac Shakur e sua gravadora, a Death Row Records; e, do outro (oeste), Notorious B.I.G e o selo Bad Boy Records, de Sean "Diddy" Combs (na época apenas Puff Daddy).

Uma guerra que envolveu ressentimentos declarados, muitos mal entendidos e o peso da grande mídia, mas que ao mesmo tempo levou à criação de grandes hits ofensivos como "Hit 'em Up" e "Brooklyn's Finest", por exemplo. Em uma entrevista (traduzida no Noticiário Periférico), Notorious B.I.G diz que se tivesse resolvido as coisas diretamente com Tupac, seria mais fácil:

Revista Vibe: Quem são eles?
Notorious: A midia. Tupac nunca disse: "todos vocês da West Coast tem que odiar a East Coast" e eu nunca disse: "todos vocês da East Coast tem que odiar a West Coast". Eles fizeram o seguinte, ele é do West, eu sou do East... Então é East contra o West.


A história acabou mal, óbvio, com os dois rappers assassinados.

Mas em 1999, algo aconteceu. Afeni Shakur e Voletta Wallace, mães dos artistas, apareceram em público no VMA para apresentar o Melhor Clipe de Rap do ano. Com uma mensagem de esperança, disseram basicamente que apesar de tudo estavam unidas cuidando do legado de seus filhos e que estavam lá para mostrar como a fé, amizade e esperança podem aproximar as pessoas.

Um vídeo sensacional e histórico para o hip-hop!



Fica uma bela lição aos poucos rappers de hoje em dia: existem coisas que vão muito além da sua marra e sua cara de mau. E não é preciso ser o John Lennon pra fazer do seu mundo um lugar melhor.

AVATAR, A Saga

por Robson Assis | | COMENTE!

Segunda-feira, 4 de janeiro, shopping Eldorado. Cidade vazia, gente ainda na praia e eu ainda na cidade cinza prestes a assistir o novo blockbuster de James Cameron, alardeado em todo o lugar, o Avatar. Já havía comprado os caros ingressos da sala 3D pela internet. Chegamos 10 minutos antes da abertura da sala e travei quando vi quatro fileiras de gente esperando abrir a sala. Parecia faltar só eu e minha garota.

Nossa cara de tédio foi impagável. Não íamos assistir a um filme que queríamos tanto e pagamos tão caro pra sair da sala com torcicolo por sentar na primeira fila. Terrível. Voltamos para tentar trocar os ingressos por outro filme qualquer, sem sucesso. Por incrível que pareça, a ingresso.com não tem nada a ver com o Cinemark, só vende os ingressos. Se algo acontecer, a responsabilidade é expressamente sua.

Portanto, sim, acabamos perdendo os 50 suados reais dos ingressos. Assisti ainda uma comédia romântica terrivelmente imbecil com o Vince Vaughn e voltei pra casa com a cara de... bem, com a cara de quem perdeu 50 reais na rua.

Boring Casoy

por Robson Assis | | 4.1.10 1 Comentário

Boris Casoy é a marca maior do falso moralismo na TV. Semana passada humilhou a classe de garis do Brasil, com comentários vazados em rede nacional que, de tão mesquinhos e arrogantes, soaram como música ruim para os ouvidos de milhões de internautas e telespetacdores. E o sempre descontraído Twitter fechou 2009 criando analogias do jornalista à velha surda.



"Que merda. Dois lixeiros desejando felicitações do alto de suas vassouras. Dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho"

Quem defende Casoy como fez o também jornalista Fábio Pannunzio merece talvez o mesmo repúdio. Não incomoda o simples escapar de um pensamento fútil e elitista. O que impressiona é a falsidade com que ele segue trabalhando como jornalista crítico de caráter e integridade da mídia brasileira.

Com este caso, lembrei dos tempos de glória de Caco Antibes no dominical Sai de Baixo. Direitista falido, currava o resto do mundo como pobre, sem olhar a si mesmo, uma personificação da derrota.

Me abstenho de citar o clássico bordão de Boris Casoy sobre vergonha alheia.

E um salve a quem esqueceu de apertar o mute.